No ano em que completou 31 anos de idade, Pedro Rocha vive uma coincidência que parece premeditada. O time que defende atualmente, o Clube do Remo, carrega o mesmo número – são 31 anos desde a última participação azulina na Série A.
Artilheiro isolado da Série B com 14 gols, o atacante não é só o goleador da competição, mas também um atleta de referência no possível retorno à elite do futebol nacional.
Em 2025, o casamento entre Pedro Rocha e o Leão tem dado certo como poucos. De um lado, um jogador que reencontrou motivação, ritmo e protagonismo; do outro, um clube que voltou a sonhar alto, movido por ambição e por uma torcida que faz Belém pulsar, transformando sua casa em um “caldeirão”, seja Baenão e Mangueirão.
Queria que você se apresentasse para o torcedor do Remo e falasse um pouco sobre esse momento que está vivendo no clube.
É um momento muito importante para mim, estou podendo mostrar meu melhor futebol, ajudando a equipe. Fico feliz por estarmos brigando pelo tão sonhado acesso.
Você é capixaba, mas começou a carreira profissional em São Paulo. Como foi essa transição?
Comecei em uma escolinha no Espírito Santo e, com 14 anos, fui morar em São Paulo para tentar testes em clubes grandes. Passei no (Atlético) Diadema (SP), que tinha parceria com o Juventus (SP), da Mooca. Foi ali que comecei de fato. De lá, fui para o Grêmio (RS), no meu último ano de Sub-20. Felipão me subiu para o profissional e foi ali que tudo começou para valer.
Seu pai tem um caderninho onde anota todos os seus gols. Isso te motiva de alguma forma?
Muito! Ele anota tudo desde a base – dia, adversário, competição. É um carinho e uma lembrança que levo comigo. Motiva bastante ver tudo registrado, tudo o que já construí.
Depois veio a ida pra Rússia. Como foi esse processo?
Foi uma decisão de carreira. Vinha jogando bem, fazendo gols, conquistando títulos. Queria dar um passo adiante, era o sonho de jogar na Europa e a Rússia foi uma oportunidade diferente, um país bem distinto, mas que me ensinou muita coisa.
Depois disso, você volta ao Brasil e passa por Cruzeiro (MG), Athletico (PR) e Flamengo (RJ). Como foi essa passagem pelo Flamengo (RJ)?
Quando eu fui para o Flamengo (RJ), em 2020, foi um empréstimo da Rússia. Tinha uma expectativa muito grande de poder jogar e continuar no clube por mais tempo, mas foi um ano complicado para todo mundo por causa da pandemia. O calendário se estendeu, o Brasileirão terminou só em 2021, e meu contrato acabava em dezembro. Os clubes não se entenderam e tive que voltar para a Rússia. Quando cheguei lá, já tinha uma nova regra sobre o número de estrangeiros, e por isso não consegui ficar no elenco principal. Joguei no time “B” , mas foi por causa da limitação, não por questão técnica.
Sobre o estilo de jogo, você mudou muito desde o início da carreira?
Na verdade, quando comecei a jogar no Juventus (SP), iniciei nessa posição, o treinador da época me colocava muito nessa posição de falso 9 ali. Apesar de não ter uma característica, digamos, de um 9, sempre gostei de jogar naquela posição porque acho que fico mais próximo do gol e consigo ajudar mais.
Porém, quando vou para o Grêmio (RS), começo a jogar de extremo, de ponta, até por conta da minha velocidade, das minhas características principais de drible e tudo mais. Começo ali e tenho um rendimento maior jogando por ali. Todo mundo me conheceu por essa posição, mas essa posição de falso 9 foi um lugar que sempre gostei de jogar.
Como falei, acho que consigo ter um melhor desempenho por estar mais próximo do gol. Então, alguns treinadores, no Cruzeiro (MG) também, com Mano (Menezes), joguei alguns jogos nessa posição. É uma posição que gosto, independente, sempre falo, independente de onde vou estar jogando ali na frente, gosto de estar dentro de campo, fazendo meu melhor.
Falando do Remo agora. Como surgiu o convite e o que pesou pra você aceitar?
Foi bem tranquilo. O antigo diretor do clube (Sérgio Papellin, que retornou ao Fortaleza-CE) já me conhecia da época do Fortaleza (CE). Precisava de mais minutos e o Remo vinha crescendo, com um projeto bom. Minha família apoiou na hora.
Como tem sido viver em Belém? Já experimentou o açaí paraense?
Ainda não conhecia Belém, mas já tinha ouvido falar da cidade e das pessoas. A decisão foi, digamos, muito rápida. Entendendo todos esses fatores, de que precisava jogar, de que precisava de um clube que me acolhesse bem, que me recebesse bem, então isso tudo encaixou e tem dado certo, graças a Deus, até o momento. Como joguei com (o lateral-direito paraense Yago) Pikachu no Fortaleza (CE), ele sempre falava de Belém também, falava do açaí. Só que a gente nunca tinha vindo nem para jogar em Belém, né? Então a gente brincava na resenha e nem imaginava que um dia poderia vir jogar em Belém. Acabei vindo jogar no Remo. Ainda não provei de tudo, mas açaí já comi, sim, gosto também, com açúcar, sem açúcar. Acho que é muito bom!
Você tem 18 gols e 6 assistências na temporada. O que mudou com a chegada do novo treinador?
Ele (Guto Ferreira) confia muito no grupo, entende nosso potencial e essa confiança faz a diferença. O ambiente é leve, e isso ajuda a render mais dentro de campo.
O Remo não joga a Série A há 31 anos. Qual o recado para o torcedor nessa reta final?
Sem dúvida, eles são importantíssimos, assim como têm sido durante todo o ano. Então, meu recado, se é que posso dizer, é que continue lutando, nos apoiando até o final. Nessa reta final, a gente vai precisar muito do torcedor. Assim como é o sonho deles também, depois de tantos anos de retornar à Série A, tenham a certeza de que nós, jogadores, estamos lutando muito por isso, para que nossa carreira também seja ainda mais valorizada. Então é por isso que cada um está aqui, lutando para que a gente consiga esse tão sonhado acesso.
No meio da temporada, houve interesse do São Paulo. Você pensa em sair ou renovar para 2026?
Meu contrato é até agora o final da Série B. Tinha muito objetivo de vir aqui esse ano e me entregar, fazer meu melhor nesse ano e conquistar esse objetivo do acesso, sem pensar muito no futuro, digamos. Sei que um acesso valoriza muito, o jogador, todo o clube. Mas no momento, de verdade, eu não tenho pensado nisso. Lógico que, se tiver essa possibilidade, ficaria muito feliz, mas penso com calma, com tranquilidade, como sempre falei. Tomo as decisões junto com minha família, com muita calma, muita tranquilidade. Sem dúvida, o objetivo maior é conquistar esse acesso para o Clube do Remo. Depois disso, a gente, com calma, toma as decisões para onde a gente vai, se a gente fica ou não. Então, estou muito tranquilo quanto a isso.
Qual é o seu maior sonho hoje?
Enquanto eu tiver vida, tiver saúde, tiver com meu corpo saudável para poder jogar futebol, vou fazer com maior alegria, maior paixão. Porque esse sempre foi meu sonho. Então, meu sonho é continuar jogando, é seguir conquistando e elevando ainda mais minha carreira, porque esse é um legado que quero deixar para os meus filhos e para toda minha família.
Já consegue ver o Remo ao fim da temporada, você e seus companheiros comemorando esse acesso? Já tem essa cena na cabeça?
A gente sonha todo dia, né? Mentaliza. Acho que tudo aquilo que a gente pensa, que a gente sonha e coloca no coração, está mais fácil de se realizar e concretizar. Então, cada dia que passa, a gente sabe que tem que continuar lutando bastante. Sabemos que não vai ser fácil, mas a gente sempre sonha e mentaliza isso, que tenho certeza que com muito trabalho, muita luta, a gente vai conseguir conquistar esse objetivo.
O Remo vive uma reta final de Série B cheia de tensão e expectativa. Com 57 pontos em 34 jogos, o Leão ocupa atualmente a 2ª posição na tabela, garantindo presença no G4.
Lance!, 24/10/2025


