Remo 0×1 Paysandu (Klaus e Adailton) – Foto: Irene Almeida (Diário do Pará)
Remo 0×1 Paysandu (Klaus e Adailton) – Foto: Irene Almeida (Diário do Pará)

Os desinformados costumam dizer que o Re-Pa é como outro jogo qualquer, valendo 3 pontos e sem consequências. Quem conhece o futebol paraense, sabe que não é assim! O clássico tem o poder de ressuscitar equipes em baixa e afundar times em ascensão. Funciona quase sempre como um divisor de águas, principalmente dentro de uma competição seletiva e difícil como a Série B.

A vitória do Paysandu, sábado (21/06), causou um rebuliço monumental. O efeito mais contundente é na autoestima. Como que por milagre, os bicolores passaram a ver o time de Claudinei Oliveira como ajustado e confiável, enquanto os azulinos condenam o Remo de António Oliveira à condição de uma equipe fracassada e sem futuro.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os exageros são ingredientes naturais do maior clássico da Amazônia e costumam ser amplificados pela paixão do torcedor. No calor das comemorações, é normal que os bicolores se entusiasmem. É perfeitamente compreensível também que a tristeza pela derrota deixe os azulinos frustrados. Isso é futebol.

Porém, há um terreno diferente – o da lucidez. Torcedores dos dois lados irão entender com clareza o resultado do primeiro duelo na Série B após 19 anos. A forma de atuação do Paysandu impressionou pela entrega e por um senso de responsabilidade a cada lance. Não foi algo novo. Nos outros 3 clássicos da temporada, o time foi sempre mais intenso e guerreiro.

A formatação focada em bloquear o meio-campo foi uma demonstração de humildade por parte de Claudinei, que mostrou respeito pela campanha azulina no Brasileirão. Ocorre que, após consolidar a marcação, o Paysandu dedicou-se a buscar o ataque, priorizando a transição ofensiva com Maurício Garcez. Deu certo.

O atacante conseguiu finalizações de grande perigo e transformou-se na principal arma ofensiva da equipe, respaldado pelas participações de Marlon, Rossi e Diogo Oliveira – que substituiu Benitez, logo aos 7 minutos.

No primeiro tempo, através de Garcez, o time bicolor esteve muito perto de abrir o placar, mesmo com uma postura cautelosa quando não detinha a posse de bola. Do outro lado, o Leão desperdiçava tempo e paciência com toques improdutivos para os lados, estabelecendo 65% de posse de bola.

Após a partida, o próprio técnico português reconheceu que muitas vezes o predomínio na posse de bola é completamente inútil. Foi exatamente o que se viu no Mangueirão!

Quando o confronto exigiu objetividade, o Paysandu mostrou sua arma. Um escanteio mal vigiado pela zaga do Remo – que estava temporariamente sem Camutanga, em atendimento médico – e muito bem executado por Vinni Faria resultou em jogada aérea mortal. A bola foi desviada para o segundo pau, onde Diogo Oliveira usou a envergadura para saltar e tocar a bola para o fundo das redes.

Apesar das inúmeras mudanças feitas, o Remo não conseguiu se organizar adequadamente para buscar o empate.

Vitória merecida do time que teve mais aplicação e soube explorar suas virtudes – força de marcação e intensidade nos duelos diretos – e anular os pontos fortes do adversário – os avanços pelos lados.

Oliveira perdeu a chance de mostrar humildade

Ninguém gosta de perder. António Oliveira estreou com derrota no clássico e aproveitou a entrevista coletiva para analisar os erros de seu time, apontando os pontos que não funcionaram. Ia muito bem nas avaliações até destacar a superioridade técnica sobre o rival.

Pontualmente, essa diferença pode até existir, mas o jogo mostrou justamente o contrário. O Paysandu levou a melhor ao ser mais objetivo e organizado. No fundo, Oliveira talvez quisesse evidenciar a diferença entre os times na classificação da Série B, mas foi apenas deselegante.

Em resposta, Claudinei optou pela diplomacia, embora deixando uma pequena farpa a respeito da maior posse de bola dos azulinos no clássico.

“Ah, (o Remo) teve o controle de bola, ficou com a bola. Paciência! Leva a bola para casa! A gente leva os 3 pontos, não tem problema”, disse o técnico bicolor.

Tretas que formam o cardápio de acontecimentos que envolvem o Re-Pa. Em poucos dias estarão esquecidas. Fica apenas, para a posteridade, o registro de quem saiu vitorioso.

Blog do Gerson Nogueira, 23/06/2025

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