Marcelinho – Foto: Samara Miranda (Clube do Remo)
Marcelinho – Foto: Samara Miranda (Clube do Remo)

Pressão por resultados, por uma boa atuação, exposição midiática, risco de lesões e problemas externos. Tudo isso pode entrar em campo com um jogador de futebol. Por isso, cada vez mais, a saúde mental no esporte tem sido debatida.

O lateral-direito Marcelinho passou por um episódio de ansiedade durante uma partida e o caso reacendeu a importância de não apenas falar sobre o tema, mas também de trabalhar o aspecto emocional dos atletas.

O jogador passou mal ainda no primeiro tempo da partida contra o Operário (PR), válida pela 11ª rodada do campeonato, no Mangueirão, e precisou ficar afastado por 3 jogos do Leão na Série B. Após sentir dores no peito, ele foi substituído no intervalo e a equipe médica do clube decidiu afastá-lo para investigar o problema.

Após a realização de vários exames, todos com resultados normais, veio o diagnóstico.

“Fiz todos os exames possíveis. Todos deram normais, não tinha nenhum problema. Antes do jogo, estava um pouco ansioso porque havia ficado 2 jogos de fora. Podia ser também uma desidratação, então acho que foi isso que me causou a dor no peito, a ansiedade, mas no momento, não sabia que era isso. Pensei que fosse algo no coração, por isso fizemos vários exames, mas não tinha nada de grave”, relatou Marcelinho.

Éser Brelaz, especialista em psicologia esportiva, explicou que a ansiedade é “uma reação natural e necessária do ser humano”, que prepara o indivíduo para lidar com o desconhecido, com situações de pressão, risco ou euforia. No entanto, quando se torna excessiva e rotineira, impactando diretamente o cotidiano e provocando reações físicas graves – como ocorreu com o jogador azulino – passa a ser considerada um problema.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que quase 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental em 2019. No futebol, os relatos de questões relacionadas à saúde mental têm sido cada vez mais frequentes, especialmente em razão da maior abertura e da quebra de estigmas no esporte.

O especialista alertou que, no futebol, a ansiedade pode se manifestar muito antes de o atleta se profissionalizar.

“Futebol é, talvez, o principal esporte no país. Ele carrega uma pressão natural que começa desde quando o pai olha para o filho e percebe que ele pode ser um grande jogador, alguém capaz de trazer soluções econômicas e sociais para a família. Aí começa a pressão”, afirmou.

Para Marcelinho, o episódio foi angustiante. No momento do jogo, ele não imaginou que pudesse se tratar de ansiedade e teve medo de estar enfrentando um problema cardíaco que pudesse afetar sua carreira.

“Enquanto esperava os resultados, quando estava em casa, pensava muita besteira, que talvez não pudesse mais jogar futebol, até morrer. Então, foi algo que afetou muito a minha cabeça”, revelou.

O lateral-direito contou que já fazia terapia antes, mas que após o ocorrido sentiu a necessidade de um acompanhamento mais intensivo. O episódio o fez dar mais atenção à saúde mental.

“Já fazia, mas era uma vez por mês. Depois do episódio, minha mente ficou embaralhada e precisei começar a fazer a cada 15 dias. Depois, vi que precisava fazer semanalmente. Tem me ajudado bastante”, destacou o jogador.

Apesar da evolução e da ausência de qualquer problema cardíaco, o retorno aos gramados foi difícil. Marcelinho contou que o apoio psicológico e o suporte recebido dentro do clube foram fundamentais para sua recuperação.

“Logo no início, quando voltei, ainda ficava receoso de entrar em campo, mas com a terapia e com as conversas que tive com o staff do Remo, onde todos me apoiaram, consegui entender que não era o coração, mas a minha mente. Isso tirou um peso. Fazer terapia tem me ajudado muito a voltar a ter alegria, a jogar futebol e fazer o que mais amo”, finalizou.

Éser destacou que a presença de um psicólogo nos clubes é fundamental. O profissional não apenas cuida do bem-estar emocional do atleta, como também o ajuda a lidar com a pressão característica do esporte.

“A diferença entre a psicologia tradicional e a psicologia do esporte é que a clínica cuida apenas do bem-estar do atleta. Trata de reações, sentimentos e questões do cotidiano. A psicologia do esporte também faz isso, porque o atleta precisa estar bem para render bem, mas ela atua, principalmente, nas questões cognitivas, como treinamento de foco, atenção, concentração, tomada de decisão, controle do estresse e da ansiedade”, explicou.

Um exemplo de como o ambiente pode ser carregado de pressão ocorreu com o técnico António Oliveira, também do Remo. Em entrevista concedida esta semana, o treinador se emocionou ao comentar críticas de que estaria no clube apenas por dinheiro.

“As pessoas precisam olhar para nós como seres humanos. Tenho valores, princípios que meus pais me passaram, mas é uma coisa que… Nem discuti contrato aqui, nem R$ 1. Não precisava vir aqui justificar, mas são coisas que magoam. Estou aqui pela paixão e por um objetivo que não é só meu, mas de um povo”, desabafou, visivelmente emocionado.

Por meio da assessoria de comunicação, o Remo informou que conta com um profissional para dar suporte psicológico aos atletas. O psicólogo Sidney Waknin está integrado ao clube desde o início da gestão do presidente Antônio Carlos Teixeira.

É fato que, nos últimos anos, o tema passou a ganhar mais espaço e tem sido tratado com mais seriedade dentro do futebol. O caso de Marcelinho não é isolado. Na verdade, é um lembrete de que cuidar da saúde mental dos atletas não é sinal de fraqueza, mas de responsabilidade!

O Liberal.com, 20/07/2025

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