O Remo briga na parte de cima da tabela da Série B e busca o retorno à Série A após 30 anos. Para comandar a equipe, a diretoria azulina apostou em um técnico de fora do país, o português António Oliveira, de 42 anos, com passagens por Athletico (PR), Cuiabá (MT), Corinthians (SP) e Sport (PE), além ter sido treinador do Benfica (Portugal).
O treinador azulino falou sobre sua chegada ao Baenão, formas de trabalho, contratações, ídolos no futebol e sobre a experiência em treinar um clube do Norte do Brasil.
O que te motivou a aceitar o desafio de comandar o Remo neste momento da sua carreira? Como tem sido a adaptação ao clube e à cidade nesses primeiros dias?
Aceitei o Remo pela grandeza do clube, da paixão desta torcida e no potencial que há aqui. Não vim fazer turismo. Vim porque sinto que há espaço para construir algo sólido. A adaptação tem sido rápida e os jogadores estão focados e acreditam. Senti-me acarinhado como em casa. As pessoas são boas e quando a gente respeita o lugar onde está, ele começa a nos acolher.
Em poucos dias, você já encarou um clássico Re-Pa. Como foi viver essa experiência logo de cara?
Consegui entender de verdade o que o futebol representa aqui. A intensidade, a emoção, a responsabilidade, tudo elevado ao máximo. Foi como entrar em um palco onde a margem para erro é zero, a exigência é grande e nos obriga a evoluir rápido.
Antes da partida contra o Athletic (MG), você vivia uma marca pessoal negativa, de 12 partidas sem vencer. Como foi lidar com isso e quais foram os principais ajustes feitos entre a derrota para o Paysandu e a vitória sobre o Athletic (MG)?
A estatística pode contar um número, mas ela não conta o contexto. O futebol não é só vencer, é sobre entender por quê não se vence. Nunca deixei de trabalhar, de estudar, de ajustar. No Re-Pa, ainda estávamos a assimilar ideias. Contra o Athletic (MG), já vimos um esboço de identidade. Mais do que a vitória, vi resposta emocional do grupo e isso, para mim, é um bom sinal.
Em que estágio você acredita em que o elenco está, em relação à assimilação da sua proposta de jogo?
Estamos no início de um processo. O mais importante agora é criar um grupo coeso e bom. Isto leva tempo, mas vejo o grupo comprometido, focado. Há escuta, há entrega e há compreensão. No futebol, é o começo de tudo.
O Remo teve o retorno do volante Jaderson diante do Athletic (MG), que melhorou bastante o desempenho do time e foi importante na virada azulina. Qual a importância do atleta para a equipe?
Feliz, acima de tudo, pelo regresso do Jaderson à competição. Quero os jogadores com saúde e disponíveis. Todos são importantes e o rendimento diário e em competição de cada um serão determinantes e responsáveis para as minhas escolhas.
Está chegando a janela de transferência e o Remo briga pelo G4. Como será essa janela? Já solicitou algum nome?
Não se trata apenas de pedir nomes. Trata-se de entender o que o grupo precisa para evoluir. A janela tem de ser inteligente, não impulsiva. O clube sabe o perfil que procuro – jogadores com caráter competitivo, inteligência tática e fome de vencer. Se vierem reforços, não é para completar o elenco, mas para elevar o padrão.
Seu pai enfrentou o Remo como jogador. Que peso simbólico essa história familiar tem na sua relação com o clube?
Para mim, isso tem um significado bonito. A vida dá voltas e hoje estou aqui a representar um clube que enfrentou o meu pai. É quase como fechar um ciclo, mas isso não me dá privilégio, dá-me responsabilidade de honrar o nome que carrego e, agora, de escrever minha própria história com a camisa do Remo.
A chegada de muitos técnicos portugueses ao Brasil é grande. Como você avalia esse fluxo? Quais características que vocês possuem e que não é encontrada nos brasileiros?
Não vejo isso como uma questão de nacionalidade, mas de mentalidade. Respeito muito o treinador brasileiro. Têm sensibilidade, leitura emocional e coragem. O que talvez diferencie alguns técnicos, sejam eles de que nacionalidade forem, é foco e vontade de vencer e, principalmente, ter a humildade de aprender.
Que técnico ou filosofia te inspira no dia a dia como treinador?
Guardiola, sem dúvida. Não só pelo jogo posicional, mas pela forma como pensa o ser humano dentro do futebol. Ele não treina jogadores, ele transforma ideias em comportamento coletivo. Também aprendo muito com Ancelotti, pela capacidade de gerir equipes com serenidade. No fundo, minha inspiração é clara. Quem joga bem, pensa bem. Quem pensa bem, ganha com constância.
Qual a mensagem que você deixa ao torcedor remista neste início de caminhada?
Apoio! Apoio nos momentos maus e bons. Se criticar ou xingar a própria equipe, é como apoiar o adversário. Trabalho todos os dias como se cada treino fosse uma final. O Remo merece uma equipe com identidade, com coragem e que represente as cores com alma. Juntos, vamos construir isso. Quando houver tropeços, estejam conosco e prometo que a resposta será sempre com trabalho e dignidade.
O Liberal, 05/07/2025