Rony, Cacaio e Ratinho
Rony, Cacaio e Ratinho

O futebol costuma ter caminhos tortuosos e pode mudar de direção de repente, quando menos se espera, dependendo às vezes de um simples gesto ou mudança de posição. O Remo, que atravessa um período de inferno astral desde que caiu diante do maior rival no clássico do returno do Parazão, ensaia uma recuperação.

As coisas começaram a mudar com a troca de treinador. O clube abriu mão do currículo mais reluzente de Zé Teodoro pela “expertise” regional de Cacaio. O novo técnico assumiu na terça-feira (31/03) e realizou dois treinos com o elenco. Fez pequenas mudanças na escalação e conseguiu extrair do time uma boa atuação diante do Atlético (PR), na quinta-feira, 02/04.

Não chegou a ser um desempenho espetacular ou brilhante. Foi, sim, uma evolução em comparação com o que vinha sendo mostrado no campeonato estadual. É preciso entender que o Remo se notabilizou por hesitar diante de adversários de porte médio – Parauapebas, Independente, Tapajós e São Francisco.

Ao longo de 3 meses, Zé Teodoro não chegou nem perto de dar entrosamento e estabilidade ao time. Trocou constantemente as peças, sem achar uma escalação definitiva. Sob seu comando, o ataque sempre foi uma incógnita. Ora, escalava Flávio Caça-Rato e Rony. Ora, usava Val Barreto e Bismark. Sem se definir por nenhuma das duplas.

Cacaio foi direto e claro. Contra o Furacão, resgatou Rony para o time titular e prestigiou Val Barreto, principal atacante do elenco. A opção se mostrou correta, apesar das dificuldades na definição de jogadas. No segundo tempo, experimentou Bismark e Rafael Paty. Os problemas se repetiram, evidenciando a necessidade de mais treinamento e apuro nas finalizações.

Setor que dá dinâmica ao jogo, o meio-de-campo foi o compartimento mais alterado pelo novo comandante. Prestigiou a dupla de volantes Alberto e Ilaílson, obtendo deste o melhor rendimento desde que chegou ao Evandro Almeida. Alberto, ao contrário, errou muitos passes e em muitos momentos emperrou o avanço nas saídas para o ataque.

Na criação, fez a mudança mais ousada. Deu oportunidade ao esquecido Ratinho, que reapareceu bem ao lado de Eduardo Ramos. Ainda fora de ritmo, Ratinho colaborou decisivamente para que Ramos tivesse mais liberdade e, acima de tudo, não ficasse esgotado pela sobrecarga de tarefas, como nos tempos de Zé Teodoro.

O desenho encontrado por Cacaio pode não ser o caminho da glória, mas é de longe a melhor alternativa para aproveitamento dos jogadores que o Remo tem. Sob seu comando, um jogador pouco produtivo (principalmente pelos problemas físicos) como Caça-Rato jamais teria chance de aproveitamento. Talvez por isso mesmo, além das demandas salariais, o próprio atleta preferiu ir embora.

O Remo de Cacaio é mais guerreiro e solidário, por isso valoriza a aproximação entre os setores. Essa nova postura ficou patente diante de um adversário de qualidade como o Atlético (PR). Em nenhum momento, os zagueiros Ciro e Igor João ficaram a descoberto, como ocorreu no Re-Pa.

Os laterais passaram a ter papel mais bem claro na arrumação do time. Jadílson foi liberado para apoiar, contando sempre com a firme cobertura de Ilaílson. Na direita, Dadá teve mais problemas em consequência da própria improvisação e da lentidão de Alberto para dar suporte quando o lateral subia ao ataque.

Ficou claro logo na estreia que Cacaio não está disposto a invencionices, nem experiências desnecessárias. Vai aproveitar os jogadores que mostrarem mais aplicação e comprometimento. É um bom critério.

Blog do Gerson Nogueira, 04/04/2015