Remo 3x1 Operário-PR (Cacaio e Welthon)
Remo 3x1 Operário-PR (Cacaio e Welthon)

Nem tão rígido como Edson Gaúcho, experiente como Givanildo Oliveira ou estrategista como Flávio Araújo. Cacaio é daqueles treinadores mais calmos, que iniciou a carreira em 2005 e se destaca muito mais pela motivação. É claro que, para ser um técnico de futebol, o profissional precisa entender das variações técnicas e táticas, mas muitos que se diziam entendedores do assunto acabaram sucumbindo no momento de decisão ao comando do Leão.

Cacaio é muito mais emoção do que razão. Talvez por isso foi o comandante ideal para tirar o clube paraense da Série D. Com uma linguagem acessível aos jogadores, no estilo boleiro, ele foi um dos grandes responsáveis pelo acesso azulino à Série C.

Cacaio conseguiu um feito perseguido por 14 treinadores desde o fim de 2008, quando o Remo foi rebaixado: Flávio Campos, Artur Oliveira, Sinomar Naves (2 vezes), Giba, Paulo Comelli, Givanildo Oliveira, Flávio Lopes, Edson Gaúcho, Marcelo Veiga, Flávio Araújo, Charles Guerreiro, Agnaldo de Jesus (interinamente), Roberto Fernandes e Zé Teodoro.

João Carlos Santos do Amaral, natural de Itaperuna (RJ), foi apresentado no Remo no dia 31/03. Saindo do Cametá, ele não tinha uma missão das mais fáceis: vencer o Paragominas para não correr o risco de ficar fora das semifinais, garantir o Segundo Turno do Campeonato Paraense, além do título do Parazão, para, enfim, ter a vaga na Série D. Fora isso, de quebra, contornar a insatisfação dos jogadores pelos salários atrasados.

Missão impossível? Não para Cacaio. O time venceu o Paragominas por 1 a 0, garantiu o primeiro lugar do Grupo 2, passou novamente pelo Jacaré na semifinal e comemorou a vitória diante do Paysandu na final da Taça Estado do Pará. Na grande decisão contra o Independente, deu Leão: 2 a 0, que garantiu o direito de representar o Pará na Série D.

Porém, no caminho para a vitória sempre há espinhos. Uma semana depois, Cacaio disputou a final da Copa Verde, que valia uma vaga na Copa Sul-Americana. Após golear o Cuiabá (MT) por 4 a 1 no Mangueirão, os remistas foram goleados pelo placar de 5 a 1, no confronto da volta, no Mato Grosso. Naquele momento o trabalho do treinador era colocado em xeque, mas a diretoria apostou na continuidade para a competição nacional.

Com um grupo onde os maiores investimentos estavam no goleiro Fernando Henrique, no zagueiro Max e no meia Eduardo Ramos, o Remo apostou em atletas que se destacaram no Estadual para a Série D, exemplos do zagueiro Henrique, o volante Chicão e o atacante Aleílson. Depois do empate o Vilhena (RO) na estreia, fora de casa, o Leão venceu Rio Branco (AC) e Náutico (RR) em Paragominas, e o Nacional (AM) em Manaus (AM).

Apesar dos resultados, Cacaio não era uma unanimidade no Baenão e as desconfianças voltaram na derrota para o Náutico (RR), fora de casa, clube que não ambicionava classificação na chave A1.

Em uma conversa com os dirigentes azulinos logo em seguida, o treinador teria sido sincero e dito que, caso pensassem em mudança, aquele era o momento, fato não confirmado pelo clube. A decisão foi pela permanência do técnico, conseguindo uma nova vitória contra o Nacional (AM), empatando com o Rio Branco (AC) e vencendo o Vilhena (RO), terminando a fase de grupos na primeira colocação, com 17 pontos.

Veio o primeiro mata-mata, aquele que, até então, o Remo nunca havia passado na disputa da Série D. Perdedor no primeiro jogo contra o Palmas (TO) por 1 a 0, Cacaio foi criticado pela escalação do atacante Kiros, última contratação remista para a competição. Na volta, em Belém, o jogador foi mantido no time titular e marcou 2 gols na vitória por 3 a 0 diante dos tocantinenses.

A grande decisão da Série D para o Remo não era a final do campeonato, mas as quartas de final contra o Operário (PR), fase que garantiria o acesso. Na primeira partida, em Ponta Grossa (PR), Cacaio pegou todos de surpresa quando escalou a equipe com 3 zagueiros, teoricamente recuado. Segurando a pressão do adversário, o Leão trouxe para Belém uma vitória por 1 a 0.

Na volta, no último domingo (18/10), diante de quase 35 mil pessoas, o técnico manteve o sistema com 3 zagueiros e escalou o meia-atacante Welthon – que em vários jogos nem foi relacionado – como titular.

Não dando espaços para os paranaenses, o Remo venceu por 3 a 1. Se os jogadores comemoraram o peso tirado das costas pelo acesso à Série D, imagina Cacaio que, entre outros motivos, ainda tinha que lidar com as desconfianças por ter sido ídolo do maior rival como jogador. Com a vaga à Série C confirmada, Cacaio, exímio artilheiro, pode ter marcado um dos seus gols mais inesquecíveis, dessa vez com a camisa azulina.

“Tenho contrato com o clube até o dia 15/11. Minha intenção é de ficar, renovar, para fazer um trabalho planejado em 2016, mas temos que ver o que Deus tem reservado para mim. Os jogadores bancaram, disseram que acreditavam em mim. Portanto, não tem recado para ninguém e nem desabafo. Só tem comemoração”, disse Cacaio, após o jogo mais importante para o Remo nos últimos anos.

Globo Esporte.com, 19/10/2015