Mesquita
Mesquita

Se ficasse frente a frente com Zico, Raimundo Nonato Mesquita, o Mesquita, não se contentaria apenas com um aperto de mão. Aos 60 anos, o ex-atacante do Remo e um dos destaques do clube nas décadas de 70 e 80, lembraria com perfeição ao maior ídolo rubro-negro a tarde de 25/10/1975. No Maracanã, em jogo do Campeonato Brasileiro, os remistas surpreenderam há 38 anos. Diante de 30 mil pessoas, venceram por 2 a 1. Alcino, já falecido, e Mesquita marcaram para a equipe paraense, enquanto o Galinho de Quintino fez o gol rubro-negro. Esta foi a última vez que o Remo derrotou o Flamengo (RJ). Uma data que entrou para a história do clube do Pará.

História que Mesquita faz questão de lembrar e contar às vésperas de um novo confronto. Nesta quarta-feira, Remo e Flamengo se enfrentam pela primeira fase da Copa do Brasil, no Mangueirão, às 22h. Os olhos do ex-atacante, que hoje é o engenheiro agrônomo responsável pelo gramado do principal estádio do Pará, se perdem durante a fala e viajam no tempo.

“Está voltando, está voltando. A ficha volta. Vem aquele filme legal, de dizer que fizemos história. Aquele time do Remo fez história. Para ganhar do Flamengo fora do Maracanã já era difícil, imagina lá dentro. Era o Flamengo do Zico, do Adílio, do Rodrigues Neto, do Renato, goleiro, do Rondinelli, do Geraldo, que faleceu depois. Imagina jogar no Maracanã contra aquelas feras todas! Ganhamos de 2 a 1! Fizemos 1 a 0, o Zico fez 1 a 1 e eu fiz 2 a 1. Aquilo para nós foi o máximo. O Galinho de Quintino ficou com raiva e saiu esbaforando todo mundo, dando dura no pessoal. Não acreditou, mas teve que engolir”, lembra, sorrindo.

Numa conversa à beira do gramado do Mangueirão, Mesquita conta que nunca mais esteve perto de Zico, idolatrado por ele. Sorte que aquele jogo está bem guardado na memória, pois a maior recordação também não pertence mais ao ex-atacante do Remo. “Troquei camisa com Zico naquele jogo, ganhei a de número 10, mas tive de doar para uma pessoa especialíssima. Depois do jogo, Zico estava aborrecido. Pedi para trocar, ele me olhou meio esquisito, mas trocamos. Doei, mas aquele momento está gravado”, lembrou.

Mesquita lembra do jogo com riqueza de detalhes. Uma vitória que virou tesouro para ele e que encheu o bolso de um apostador da loteria federal. “Aquele dia o Flamengo não ganharia. Além de sorte, jogamos muita bola. Meu gol saiu de um escanteio cobrado pela ponta direita, a bola veio no chão, entrei de carrinho, me chutando todo, mas não estou nem aí. Ganhamos uma partida dificílima, mas lavamos a nossa alma. Foi um sábado, de bom público, estava garoando. Foi o gol da loteria. Nesse dia ganhou só uma pessoa. Esse camarada deu graças a Deus pelo meu gol. Ficou rico! Nem para chegar e oferecer um ‘bichinho’ para a gente (risos). Mas não tem problema. Fiquei conhecido no Brasil todo, entrei para a história dentro do futebol do Pará, do Clube do Remo. Até hoje a recordação é total”, relata.

Algoz do Flamengo por um dia, o ex-jogador defende aquela equipe do Remo de 75. Lembra que o grupo era capaz de encarar qualquer grande do futebol brasileiro. “Lembro com saudade daquela equipe, era uma equipe espetacular. O Remo tinha um timaço, podia jogar em qualquer lugar. Tanto que dias depois jogamos com o Vasco (RJ) e ganhamos de 2 a 0 aqui dentro, contra o Roberto Dinamite. A gente tinha tudo para ganhar, como o Flamengo também poderia ganhar de goleada. Foi uma vitória inesperada, mas aconteceu”, lembra.

Nascido em Belém, Mesquita defendeu os três pincipais clubes do Pará. Além do Remo, onde marcou mais de 130 gols, jogou por Paysandu e Tuna Luso, onde foi revelado. Ao todo, foram 10 títulos, mas a paixão pelo Leão vem de berço. Tanto que o mau momento do clube o machuca. “Estou triste porque o Remo está nessa situação ruim, dando vexame. Espero que a fase passe, pois está perdurando. Que o Remo volte a crescer de novo”, afirma.

Mesquita estará no Mangueirão nesta quarta-feira para ver um novo jogo entre Remo e Flamengo. Times que, segundo ele, nem de longe lembram aqueles da década de 70. “Os dois times estão patinando, não estão no auge. O Flamengo acabou de perder para o Audax (RJ). O Remo está em uma penura no Campeonato Paraense. Perdeu o primeiro turno, a torcida não está acreditando muito, mas eles podem fazer um bom jogo, são duas equipes de tradição. Uma do Brasil e do mundo, a outra do futebol paraense e brasileiro. São dois times de tradição, camisas que pesam, famosas. A gente espera que façam um bom jogo. O Flamengo ainda está lançando jogadores da base, alguns ainda não deslancharam, mas pode até golear o Remo. E o Remo pode ganhar do Flamengo”, aposta.

No fim da conversa, o ex-atacante, que marcou o primeiro gol de um jogo oficial do Mangueirão, disse que tem dois sonhos que envolvem ele, o Flamengo e o Remo. “Sou remista, torço para que o Remo volte aos bons tempos. O Zico foi um dos maiores do mundo, um dos maiores ídolos que tive. É um camarada respeitado no mundo todo, um profissional correto. As duas coisas seriam interessantes. Encontrar com Zico, conversar sobre aquele jogo, e ver o Remo novamente crescer”, disse.

Remo e Flamengo se enfrentaram 17 vezes na história. Foram 11 vitórias rubro-negras, 3 do Leão e 1 empate.

Globo Esporte.com, 03/04/2013