Tem sido um problema recorrente do Remo nos últimos anos: a intermediária ofensiva é congestionada pela localização desconexa de jogadores, provocando um acúmulo de atletas que não propicia a melhora do rendimento coletivo.
Nem sempre aproximar significa facilitar o jogo ou adquirir maior fluidez. Essa questão passa muito pelo (pouco) ordenamento a que os jogadores são submetidos, tarefa vital para se gerar jogo em qualquer âmbito futebolístico. Ao se observar as causas, logo vê-se o mal uso dos extremos/pontas na tentativa de furar bloqueios defensivos.
Essa posição é geralmente ocupada por atletas velozes, com capacidade de drible e resistentes para aguentar os constantes movimentos verticais, além de inserções horizontais visando liberar terreno ao avanço do lateral.
O Remo, em anos recentes, contou com Ciro, Fernandinho, Marcinho, Jayme, Gabriel Lima, entre outros, na posição, uns com mais e outros com menos destaque. Porém, o ponto em comum é que nenhum deles utilizou-se da posição para tirar o melhor de si e nem utilizou a posição para aumentar a imprevisibilidade dos ataques azulinos, seja participando direta ou indiretamente. Houve brilhos individuais em determinados jogos, mas nada com a frequência requerida.
Para melhor compreensão, é importante sabermos as principais funções da posição:
- Alargar o campo – fornecendo amplitude que aumente as distâncias das linhas rivais;
- Fechar espaços – sem a bola, limitar espaço e tempo ao rival e proteger o setor lateral;
- Desborde – ganhar metros no campo, seja driblando, infiltrando ou chegando ao fundo;
- Auxiliar a zona central – aqui, o posicionamento é fundamental para descongestionar o meio.
Este último aspecto carece de maior compreensão dos jogadores e da torcida. Um extremo/ponta é o jogador que não precisa tocar muitas vezes na bola, mas tem de fazê-lo nas ocasiões certas.
Portanto, e como o Remo tem feito, não adianta ceder a bola ao jogador habilidoso pelos lados e esperar que ele seja o verdadeiro armador. Por vezes, ele obterá vantagens, mas na maioria das vezes será obrigado a voltar o jogo ou perderá a posse tentando passar pela marcação dobrada. Assim, a criatividade diminui, o número de chances cai e a impaciência chega devido à queda coletiva.
O que seria aconselhável a Ney da Matta é fazer os jogadores da posição entenderem essa questão de tocar menos na bola e participar mais (sim, é possível), além de fixá-los mais nas pontas, sem a necessidade frequente de transitar pelo centro. Dessa maneira, os jogadores de meio-campo teriam mais espaço para atuar e a superioridade numérica viria com o centroavante fazendo pequenos recuos, ou a superioridade posicional com um dos extremos/pontas ocupando o corredor intermediário entre centro e lateral para liberar a subida do ala.
As associações estariam garantidas e com espaços, facilitadas pela amplitude dos extremos – aqui, sua participação mesmo sem tocar na bola.
Além disso, estando mais abertos, receberiam menos a bola por parte do lateral do setor. Ao receber do lateral, o extremo/ponta domina de costas para a marcação, em desvantagem para avançar e fazer o jogo progredir. Com o jogo sendo elaborado por volante, meias e laterais mais centralizados, eles receberiam a bola vinda de alguém do centro, em passes diagonais justos ou em profundidade, podendo ativar suas melhores características e aproveitariam a explosão física nos metros finais, bem como estariam em situações de um-contra-um com o lateral rival, ao invés de lidar com dois ou três marcadores próximos.
Claro que tudo isso requer mais do coletivo do que propriamente do indivíduo, mas é interessante analisar como essa posição foi subutilizada por parte do Remo nos últimos anos. O Campeonato Paraense é repleto de marcações em encaixes, de modo que uma troca de passes efetiva pode contemplar e maximizar o rendimento dos jogadores que atuarem abertos no campo. Ativá-los é importante, mas é mais importante ainda saber quando e como ativá-los para que criem e desfrutem de vantagens no jogo.
Ney da Matta precisará saber esses caminhos para que obtenha o máximo de Elielton, Gabriel Lima, Jayme e Felipe Marques.
Texto enviado por: Caíque Silva » Twitter
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