Miléo Júnior
Miléo Júnior

O advogado Miléo Júnior, de 32 anos, garante estar preparado para lidar com o eterno dilema vivido pelos dirigentes de futebol: saber dividir a razão da emoção na hora da tomada de decisões. Candidato mais novo à presidência do Remo, ele afirma ser torcedor do Leão desde criança, frequentador das arquibancadas, mas que agora está preparado para comandar um dos maiores clubes do país. Miléo disputará a eleição do próximo sábado (23/01) pela Chapa 20, denominada “Avança Leão”, tendo o deputado estadual Milton Campos como vice.

Miléo promete uma gestão profissional em todos os setores do Remo, com ênfase na adesão ao Programa de Modernização do Futebol Brasileiro (Profut). O candidato pretende criar um projeto com objetivo de transformar a área do Carrossel, anexo ao Baenão, em um complexo com área de lazer, hotel e um shopping, gerando receita ao clube. Ele diz ter, de imediato, como conseguir R$ 1 milhão para quitar as dívidas mais urgentes, como o pagamento de salários atrasados de jogadores e funcionários.

Confira, abaixo, uma entrevista com Miléo Júnior, um dos quatro candidatos à presidência do Remo para o ano de 2016:

Você é o candidato mais novo entre os 4 que disputam a eleição. Você está preparado para assumir o desafio e, principalmente, saber separar a emoção da razão, do torcedor para o dirigente?

Sempre fui torcedor, desde pequeno. Agora estou como conselheiro do clube desde o final de 2014. Sempre fui colaborador, dentro das nossas possibilidades. Nós não íamos lançar a nossa chapa. Não ia me candidatar à presidente esse ano, talvez no ano que vem, mas ao longo de 2015 fomos ganhando adeptos e quando se falou em eleição, todos cobraram o meu nome. As pessoas com credibilidade foram chegando próximo. Esses adeptos solicitaram o meu nome e o do Milton, ganhamos confiança para esse pleito e colocamos a nossa chapa. A equipe está muito consciente do que é presidir o Remo. Temos que saber separar as coisas a partir do momento que você vai gerir o clube. Óbvio que o remismo continua, porém, será diferente. Jamais administrar com emoção, com raiva, não dá. Buscamos uma gestão profissional, transparente e profissional.

Dentro das suas propostas e projetos, qual o plano de ação para o comando do Remo?

Não vamos vender ilusões. Nosso objetivo é trabalhar com transparência, iniciar uma gestão profissional para o clube, ter um executivo, assim como tem o futebol, o financeiro, o administrativo. O clube não pode parar. Às vezes, o diretor não está na sede e não pode assinar um documento. Queremos fazer diagnósticos de todos os setores do clube. Também pretendemos criar uma comissão para analisar e aderir ao Profut, ter um time competitivo, que podemos pagar, com responsabilidades financeira. A meta é pagar o time em dia. O foco será na Série C, com o objetivo maior sendo subir à Série B.

Você tem noção da atual situação financeira do Remo?

Já pegamos algumas informações da comissão de futebol e outros setores. Protocolamos um documento no dia 29/12, que não foi respondido, requerendo diversas informações para fazer o nosso planejamento orçamentário. Requeremos informação do futebol, de todos os setores do clube. Não foi repassado tudo, algumas coisas nós ficamos sabendo pela imprensa. O futebol precisa de algo em torno de R$ 1 milhão para esse fôlego financeiro. Obviamente, sabendo disso, já tratamos da situação e temos esse valor para injetar no clube. Não tenho dúvidas que, a partir do momento que o futebol começar e formar um time competitivo, com responsabilidade, a torcida do Remo compra a ideia, vai para o jogo e adere ao projeto do clube. De inicial, teremos um grupo para ajudar nesse financeiro e, partir do 31/01, o Remo será sustentável, vamos buscar outros parceiros. Temos que trabalhar com uma gestão profissional.

Entre as suas propostas também está a valorização do sócio remista. De que forma isso aconteceria?

É uma valorização do sócio remido e proprietário. Vamos trabalhar em cima disso. Hoje, esses sócios só têm direito a pagar, não têm outro beneficio. Queremos buscar uma parceria com algum clube com sede campestre, é preciso criar formas do sócio pagar e ter uma contrapartida. É criar um estimulo. O sócio-torcedor é muito importante, mas tem que ser readequado. Vamos ter na nossa diretoria, caso seja aprovado pelo Condel, um departamento só de investimentos, captação de recursos e patrocínios, uma pessoa que vai trabalhar só nessa área. A questão do Profut é muito importante nisso, para termos as certidões, pois quando procurarmos as empresas, elas vão querer ver a certidão.

Sua chapa também fala muito em valorização do patrimônio do Remo.

Temos o Carrossel, que é uma das áreas mais valorizadas dessa cidade e nós não conseguimos fazer mais nada alí. Desde quando acabou o Carrossel, não virou mais uma fonte de renda. Acho que precisamos buscar investidores para essa área. A preocupação está nos leilões. Só que o Carrossel é um imóvel e o Baenão é outro. O que está empenhado é o Carrossel. Nós temos juridicamente condições de substituir essa penhora, passar para o Baenão e deixar o Carrossel livre e, a partir daí, o investidor tem essa segurança de fazer um hotel e usar durante 20 anos, por exemplo. Podemos ter 20 apartamentos que serão do clube, um shopping, um mix de restaurante, praça de alimentação. Queremos buscar investidores para fazer isso.

O Baenão é um dos principais problemas que o novo presidente encontrará. Qual a sua ideia para deixar o estádio livre para receber jogos oficiais do Remo?

Temos que buscar um trabalho, ver o que seria feito antes da derrubada. Nossa proposta para o Baenão em 2016 é buscar investidores e, se Deus quiser, em 2017 e 2018 iniciar um projeto do tamanho do Remo, não remendar o Baenão. Queremos fazer a Arena do Leão, retomar o projeto do Aurélio Meira, que ficou só na ilusão. Essas são nossas pretensões para o clube. Outro detalhe: o Pirão vendeu os camarotes e cadeiras, mas não foi tudo. O Remo tem condições de iniciar um projeto, retomar essa venda, mas nós não podemos iniciar isso sem ter algo certo e concreto para o Baenão. Vamos primeiro buscar os investidores para pode fazer isso.

Caso eleito, você pretende manter o atual elenco e comissão técnica?

Quando anunciaram o treinador (Leston Júnior), fui procurar entrevistas, jogos dele. Conversei com ele, inclusive passando tranquilidade, não só sobre futebol, mas que queremos o bem do clube. Gostei muito dele, é um estudioso com o perfil que o Remo precisa. É um cara que quer crescer no futebol, sabe as realidades do Remo. Com seriedade, profissionalismo, ele vai ajudar o clube. Na questão dos jogadores, até perguntei se todos foram avaliados por ele, que me disse que sim. Alguns já conheço, como o Michel, Marco Goiano e Ciro. O que me deixa mais tranquilo é o aval do treinador. Não tenho tanto acesso aos termos dos contratos. Conversei com próprio Dirson (Medeiros, membro da comissão de futebol), que me disse que os contratos estão sendo feitos com responsabilidade e pés no chão. Acho que o time está indo no bom caminho. Não vamos chegar e fazer mudanças drásticas, mas readequar o que for preciso. O caminho está correto e nós pretendemos dar continuidade readequando. Sobre a questão da comissão de futebol, não só eles, como algumas pessoas de outras chapas que estiverem bem intencionadas e quiserem aderir ao projeto, caso nós sermos vencedores, serão bem vindas.

São 4 chapas concorrendo no pleito. Não houve um consenso? Não faltou união?

Vejo as chapas como democracia dentro clube. Isso mostra a força e potência que o Remo tem, possibilitando mais opções aos associados. Sabemos onde o clube está e de onde é capaz de chegar. O Remo só tem a ganhar com isso, nas 4 chapas têm pessoas boas. Então, mais importante é debater projeto para o clube, nada de questão pessoal. Agora, falta união dentro do clube. As pessoas pregam união, mas não praticam. Infelizmente, a política dentro do Remo ainda é muito forte. Honestamente, dentro da nossa chapa, não só por mim e pelo Milton, mas tem essa união, não é por soberba. Nós acreditamos que o Remo só vai andar se o presidente tiver autonomia para colocar as pessoas que ele julgar competente. Essa desunião acontece por conta dessas composições, de presidente, vice e diretores incompatíveis de pensamento. Às vezes, um não fala com o outro, um só passa pelo outro. Vejo a nossa chapa com bons olhos. Quem aderiu, foi pelo nosso projeto e não pensando em diretoria.

Globo Esporte.com, 20/01/2016