André Cavalcante
André Cavalcante

“Nasci em uma família remista. O Remo é o meu clube de coração”, é como o advogado André Cavalcante, de 47 anos, responde às críticas por ter sido diretor do São Raimundo, de Santarém, entre 2004 e 2011. Hoje, ele é integrante da comissão de futebol do Leão e coordenador do programa de sócio-torcedor Nação Azul, além de ser um dos 4 candidatos ao cargo de presidente azulino em 2016 pela Chapa 30, denominada “Sou + Remo”, tendo como vice o profissional de marketing Fábio Bentes.

André acredita que a adesão do Remo ao Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) será essencial para resolver os problemas financeiros vividos pelo clube. Entre as principais propostas, Cavalcante pretende, caso eleito, readequar a área administrativa remista, ampliar o projeto sócio-torcedor e reformular as categorias de base, inclusive, fechando uma parceria com um complexo esportivo de Ananindeua.

Confira, abaixo, uma entrevista com André Cavalcante, um dos 4 candidatos à presidência do Remo para a temporada de 2016:

Desde que foi anunciada a sua candidatura à presidência, você tem recebido críticas por ter sido diretor do São Raimundo e defendido o clube santareno no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PA) em situações que também interessavam ao Remo. Como iniciou a sua relação com o Leão?

Nasci em uma família remista. Aos 9 anos, tive que sair de Belém por conta da profissão do meu pai e fui para Santarém. Mesmo lá, acompanhei a caminhada de glória do clube. Em 2003, já casado, voltei para Belém definitivamente, me associei ao clube em 2004, mas não tinha contato com ninguém de dentro, até por conta desse meu afastamento. Como advogado, comecei a militar na Justiça Desportiva. Defendi não só o São Raimundo, defendi todos os clubes do interior. Cheguei a defender o Remo na época do Sérgio Cabeça. A partir daí, comecei a ter aproximação com as pessoas dos clubes e, claro, com o Remo, que é meu time do coração. Até que, em setembro de 2014, fui convidado pelo Zeca Pirão para assumir o Departamento Jurídico. No final de 2014, virei conselheiro e, após um pedido do Pedro Minowa, fui chamado para o Nação Azul, que é o sócio-torcedor do clube. Conseguimos colocar entre os principais do Brasil no ano de 2015. Em novembro, fui convidado para fazer parte da comissão de futebol e contribuir com a montagem do elenco para 2016.

Por que você decidiu se candidatar ao cargo de presidente?

Aconteceu de uma maneira muito natural. As pessoas viram o nosso trabalho em defesa no Condel. Fomos os primeiros e principais conselheiros que, de fato, cobraram alguns problemas que estavam ocorrendo na gestão do Minowa e isso deixou o meu nome em evidência. Depois, partimos para o Nação Azul e fizemos o trabalho que se destacou no cenário nacional. A soma de todos esses fatores fez o nosso nome ser lembrado entre as chapas e acabei aceitando ser candidato à presidência do Clube do Remo.

Qual a sua avaliação, de maneira geral, do Remo atualmente?

Vejo que na gestão do Manoel Ribeiro se deu um salto de qualidade. Vínhamos de uma gestão muito ruim do Pedro Minowa, que não conseguiu liderar as pessoas que estavam com ele. Fizeram com que o Remo ficasse em uma situação muito complicada. Manoel pacificou o futebol, que vinha em um momento delicado, greve de jogadores… Lamentavelmente, tem esse equívoco do assalto na sede, por conta da quantidade de dinheiro que ficou guardado lá, mas vejo o Remo bem melhor do que começou em 2015. Acredito que o próximo presidente terá uma missão muito árdua, mas menos complicada.

Mas o clube passa por uma situação complicada financeiramente.

Acontece que, mesmo o Remo vivendo esse momento conturbado financeiramente, o futebol passa por um momento propício para você conseguir reorganizar o clube. Em agosto de 2015, foi lançada a Lei de Responsabilidade do Esporte e trouxe o Profut, que é a maior modernização do futebol brasileiro. Dentro das novidades do Profut, tem em especial a que os times que aderirem ao programa poderão parcelar suas dívidas tributárias em 20 anos, em 240 meses. Isso faz com o que a dívida do clube, que sempre é o maior temor, seja controlada, administrada. Digo o maior temor porque não só as empresas estatais, eventuais patrocinadoras do clube, mas também as empresas privadas já exigem a saúde financeira para ter uma noção de onde estarão investindo o seu dinheiro. Essa questão do Profut vai ser muito importante para isso, ou seja, vamos controlar uma dívida que é um fantasma para o clube e, ao mesmo tempo, ter vantagem de resgatar nossos patrocinadores. Conseguimos em 2015, também, que a dívida trabalhista do clube ficasse controlada, já com o pagamento de algumas ações e o parcelamento de outras.

Quais as principais propostas da sua chapa?

Se assumirmos, pretendemos fazer um diagnóstico e remodelação administrativa no clube. Vamos empregar boas práticas administrativas, que seriam adotar princípios de governança claros e objetivos na escola de fornecedores, por exemplo. Isso com regras claras, determinadas. Em relação ao sócio-torcedor, queremos ampliar o que já é um sucesso, passando a ser, em pouco espaço de tempo, a segunda ou a terceira fonte de renda do clube. Sócios proprietários e remidos precisam ser trazidos para dentro do clube, não só no fator financeiro. Falo em trazer o sócio empregando trabalhos específicos com empresas credenciadas pelo clube, que vão mostrar aos associados que se está tentando fazer uma estrutura nova na sede, de diversão, no seu complexo aquático, social e quadra. A partir daí, fazer melhorias na nossa sede, desenvolver entradas para os sócios no estádio, venda exclusiva de ingressos para esses sócios. Queremos valorizar, de fato, os nossos associados.

Entre as suas propostas, estão ações específicas para as categorias de base. Quais são?

A base terá uma restauração completa. Que a base seja vinculada ao profissional, onde o nosso executivo de futebol possa controlar administrativamente esse setor, que o treinador controle tecnicamente os outros técnicos das categorias. Nós temos um trunfo muito grande em relação à questão da base, que é o complexo de Águas Lindas. Fizemos uma parceria com uma empresa que está com uma mega estrutura. Vai servir para duas coisas: um local de treino para a base e o profissional, vão ter 4 campos. Lá nossos atletas vão poder desenvolver o trabalho melhor e tranquilamente, quando não for possível realizar os treinamentos no Baenão. Ao mesmo tempo, nesse complexo eles terão outras atrações, como piscina e quadra de gramas sintéticas. Vamos fazer uma grande parceria para que todos os sócios do clube se beneficiem, também. A inauguração desse complexo será em junho de 2016.

O Baenão é um dos grandes desafios do presidente que será eleito no próximo dia 23/01. Como você vai lidar com o estádio, hoje impedido de receber partidas oficiais?

Não sou irresponsável de prometer coisas que não serão feitas. Consultamos vários engenheiros e pessoas entendidas que conhecem do assunto e o Baenão requer cuidados. Nós temos o desgaste natural das arquibancadas, tanto na 25 como na Almirante Barroso. Precisamos fazer o tratamento dessas estruturas, do lado da Almirante, já avançou muito esse trabalho. Precisamos colocar o Baenão em condições de uso. Na parte dos camarotes que foram demolidos, pretendemos, a partir de um estudo de viabilidade do estádio, verificar o que pode ser feito. Vai ser tudo de uma maneira responsável, com os pés no chão. A derrubada dessa parte do Baenão não trouxe apenas um prejuízo financeiro para o clube, mas também um problema de credibilidade. Qualquer coisa que a gente prometa hoje para o Baenão, precisamos mostrar para o associado, para que ele possa confiar naquilo.

Como você faz parte da atual comissão de futebol, o planejamento para esse setor, caso você seja eleito, não deve mudar.

Não é porque componho a comissão de futebol que, me tornando presidente, vou desmerecer o trabalho que eu mesmo participei. Isso é uma garantia de que pode dar certo, até porque esse trabalho foi feito de uma maneira muito responsável. Quando fomos escolher o treinador, montamos um perfil que queríamos, que bateu com o do Leston Júnior: vencedor. Vamos manter a nossa comissão técnica, os jogadores, pois eles foram avaliados por um critério técnico da comissão. Fizemos uma equação de quanto o Remo poderia dispor por mês, levando em consideração bilheteria, sócio-torcedor e patrocinadores. Entendemos que, nos 5 primeiros meses, teríamos R$ 200 mil de bilheteria. Então, chegamos à conclusão que poderíamos montar um elenco R$ 400 mil ou R$ 450 mil. Hoje estamos em R$ 330 mil de folha salarial, juntando comissão técnica e jogadores. Tem uma gordura de R$ 120 mil a ser queimada. Ainda temos umas peças para trazer: um zagueiro, um atacante de área e um lateral-direito.

Qual o motivo para que não houvesse um consenso entre as chapas para a eleição?

Antes mesmo de ser aberto o processo eleitoral, nós fizemos, no Condel, uma proposta para que todos os pré-candidatos sentassem e discutissem essa possibilidade. Essas reuniões foram realizadas, mas o acordo não foi possível. Nas inscrições das chapas, fomos procurados pelo deputado Milton Campos, vice do Miléo Júnior, que propôs uma união das chapas. Depois de muito debate, decidimos unir, mas depois o próprio Milton Campos falou que o mesmo grupo que propôs, não aceitou. Não entendemos muito como foi essa história, mas vida que segue, mantivemos nossos planejamentos. Vejo com bons olhos essa quantidade de candidatos, pois isso demonstra o bom momento político que o clube passa.

Falta união dentro do Remo?

Esse tipo de ambiente se instala quando não existe austeridade do trabalho, que você não consegue impor respeito, hierarquia dentro do clube. O Remo hoje precisa muito mais que um presidente, precisa de alguém que possa levar o clube onde ele merece e estamos preparados para assumir esse papel. Nem em nomes para compor os cargos dentro do clube nós falamos. Estamos evitando, sabemos que todas as chapas têm pessoas boas, que podem contribuir. Estamos fazendo uma campanha muito tranquila, sem atacar ninguém, sem mentiras, com debate de projetos, respeitando sempre nossos adversários. Estamos fazendo isso para que, a partir do dia 23/01, possamos ter um novo cenário dentro do clube, de união e parceria, precisamos nos respeitar, ter um diálogo amistoso. Nós não somos inimigos um do outro.

Globo Esporte.com, 21/01/2016