“Tenho a preferência de ganhar, apenas isso”. Foi com esta frase direta que o técnico Guto Ferreira iniciou a entrevista concedida na sexta-feira (17/10), véspera da partida crucial contra o Athletic (MG), após uma sequência positiva de 4 vitórias até aquele momento.
No centro da entrevista, estava a pergunta que mais ecoa nas arquibancadas O que, de fato, levou o Leão à boa fase?
Para Guto, o trabalho da comissão técnica tem se concentrado mais na recuperação dos aspectos emocionais do elenco do que em grandes revoluções táticas.
“Sobre a mudança da equipe, penso que envolve uma série de fatores. O primeiro foi a mudança de atitude. Mostramos aos jogadores qual era o caminho e que eles tinham essa capacidade dentro deles, porque já haviam caminhado nessa direção no primeiro turno. Tinham se desviado um pouco, mas já tinham mostrado firmeza. Por isso, não foi tão difícil”, afirmou.
Conhecido pelo estilo pragmático e por ter vasta experiência no futebol nacional, com passagens por Internacional (RS), Bahia (BA), Ceará (CE) e Goiás (GO), o nome de Guto foi a primeira opção da cúpula azulina para conduzir o time na Série B após a demissão de António Oliveira.
Acostumado à competição, ele comandou o Cuiabá (MT) até a 21ª rodada deste ano. Apesar de nunca ter treinado uma equipe do Norte do país, Guto parece estar se apaixonando, aos poucos, pelos encantos da Amazônia – e a razão é clara.
“Essa cultura, esse amor, essa fé, já imaginava que existissem, mas não com tanta energia. Acho que isso impulsiona o Remo a ser o que é, e pode impulsionar o clube a ser ainda mais gigante do que já é”, apontou.
A boa fase do Remo nos gramados gera satisfação, mas na avaliação do técnico, nada o impactou mais profundamente que o Círio de Nazaré. Guto conta que assistiu da sede do clube à Trasladação – a 2ª procissão mais importante da Quadra Nazarena – e teve todas as expectativas superadas.
“Pelo que a gente tem visto, mesmo de fora, só temos coisas boas a dizer. Tenho comentado muito em outras entrevistas quando perguntam a mesma coisa, é o sentimento, a energia. É algo inexplicável! Não estou falando apenas do momento da procissão. Cheguei por volta de 16h45, entrei na avenida e ela já estava tomada. O simples fato de passar ali já dava arrepio”, descreveu.
Segundo Guto, a força e a fé presentes no Círio são essenciais para entender a essência do povo paraense e, consequentemente, do torcedor remista.
“A partir daí, comecei a entender o que vejo depois, por parte dos torcedores, essa expectativa, essa paixão. Olhando para trás, percebo o que antes não compreendia, quando via os jogos do Remo ou de outros clubes de Belém. Essa energia é cultural, é do paraense, é do belenense. Isso é fantástico!”, comentou.
Guto sabe que pode contar com a energia diferenciada vinda da torcida para buscar o acesso à Série A. No entanto, o que precisa ser feito dentro de campo? Segundo ele, equilibrar as emoções. Isso vale, diz o treinador, para os momentos bons e os ruins que o Leão ainda pode viver na competição.
“Agora é controlar a empolgação e seguir firme, com essa força que cresce a cada jogo. Temos 6 partidas pela frente e precisamos vencer 4 delas. Antes, era mais difícil, eram 8 em 10. Hoje, são 4 em 6, mas não podemos achar que ficou fácil. A dificuldade aumenta, porque, conforme você sobe, passa a ser ‘vidraça’. Ao mesmo tempo em que há mais respeito, também há mais estudo dos adversários, mais precaução e cada vez menos podemos errar”, reforçou.
Guto chegou ao Remo no final de setembro e estreou no banco de reservas na 29ª rodada, diante do CRB (AL), em casa. Nas primeiras 4 partidas, o treinador acumulou 4 vitórias e fez com que o Leão pudesse sonhar com o acesso à Série A, fato que não ocorre há 32 anos.
Por conta disso, Guto salientou a necessidade de um “elenco fechado”, não só em relação ao número de atletas, mas focado em um único objetivo. Uma filosofia que, segundo ele, avança para os demais profissionais do clube.
“São muitas coisas estudadas, não só por mim, mas também pelo departamento e pela direção de futebol. Aqui, todos têm papel importante, o pessoal da recuperação, do controle de carga, a imprensa, o faxineiro, a cozinha, o copeiro, o massagista, todos. Cada um buscando fazer seu melhor. Não me vejo como alguém que constrói algo sozinho. A gente é apenas uma peça dentro de uma engrenagem, talvez a que aparece mais, mas uma peça”, explicou, reconhecendo a importância coletiva.
Com contrato até o final da atual temporada, o técnico foi questionado sobre uma possível permanência para o próximo ano, mas preferiu focar nos objetivos de curto prazo – a principal preocupação da comissão técnica.
“Neste momento, nosso foco é cumprir o principal objetivo. Vamos nos preocupar com isso. Quando você é feliz em um lugar, não há por que trocá-lo, a não ser que aconteça algo fora do comum. Hoje, estou em uma idade e em um momento da carreira em que o que mais quero é estar feliz onde estou. Enquanto for feliz aqui, quero continuar desfrutando disso. Então, vamos primeiro ser felizes”, finalizou.
O Liberal, 19/10/2025