Tsunami
Tsunami

Nos últimos anos, alguns jogadores surgiram como promessa nas divisões de base do Clube do Remo, mas poucos tiveram oportunidade e sequência necessárias para que conseguissem mostrar trabalho. Os últimos foram o volante Warian Santos, o Ameixa, e Rony, que com muita luta, ganharam espaço e se destacaram com a mesma velocidade em que deixaram o Leão.

Hoje, o volante treina no Sub-20 do Corinthians (SP), enquanto que o menino veloz tem brilhado com a camisa do Náutico (PE), na Série B do Campeonato Brasileiro. No Baenão, os que ainda permanecem por lá continuam na luta, em busca de uma chance para, quem sabe, seguir o rumo das últimas revelações remistas.

Nem na era Leston Júnior e tampouco com Marcelo Veiga a garotada remista conseguiu, de fato, ser olhada com mais atenção este ano. Com a chegada do técnico Waldemar Lemos, que um dia já treinou as categorias inferiores da Seleção Brasileira, a esperança dos meninos azulinos foi renovada. Constantemente, por exemplo, o treinador realiza treinos coletivos contra o Sub-20, para manter o grupo de jogadores que não atuam com frequência na ativa e observar quem ainda está no início da carreira.

Além disso, Waldemar tem na sua comissão técnica diversos profissionais que, assim como ele, possuem experiência com a molecada, como o preparador físico Sinclair Garcia e os auxiliares Zé Roberto e João Neto, que trabalhou com grande parte dos garotos azulinos, como Edicleber, Tsunami, Sílvio e Júnior Miranda, e explica que a transição da base para o profissional ainda é um processo complicado para os jovens.

“O atleta sente a demanda de treino, já que treina apenas um período na base e passa a treinar dois no profissional em alguns dias da semana. Além de outros componentes do próprio treino, como o contato físico mais acentuado e mais cadência na circulação da bola”, detalha Netão.

Waldemar Lemos ressalta que é tudo uma questão de tempo para que os garotos ganhem oportunidade. “Estamos observando, trazendo esta rapaziada, intensificando os treinamentos deles. Os que não viajam, ficam trabalhando em Belém porque eles precisam estar prontos, para a hora que precisarmos, podemos lançar qualquer um, sabendo que eles vão dar a resposta com tranquilidade para aquilo que queremos”, argumenta o técnico.

[colored_box color=”yellow”]Tsunami ainda está na eterna lista de espera

Não é de hoje que os jogadores locais reclamam das dificuldades de ter uma chance no time principal. Se para os atletas com alguma rodagem já é complicado, para os da base o desafio é maior.

Uma das promessas mais recentes do Remo, Tsunami, que atua em pelo menos três posições, revela ter sentido preterido nesta temporada. Durante a era Marcelo Veiga, a equipe não tinha lateral-esquerdo e o treinador chegou a fazer improvisos na posição.

“Senti um pouco de preconceito, sim. Vinha treinando como lateral-esquerdo e não tinha ninguém que pudesse jogar. Vinha bem, estava indo bem nos treinamentos, mas nunca tive a oportunidade de conquistar esta vaga. Chegaram outros jogadores para a posição e perdi espaço”, conta o jogador de 20 anos, que é zagueiro de origem, mas também joga como volante e lateral-esquerdo.

Com a chegada do treinador Waldemar Lemos, o garoto está esperançoso por uma oportunidade. Para isso, ele usa como exemplo um companheiro de equipe. “Me espelho no Marcinho. Ele estava como a gente, sem chances na equipe, mas olha aí, hoje é titular da equipe. O professor Waldemar já disse que dá oportunidade para todos e basta a gente trabalhar e treinar forte. Vou seguir, pois sei que vou conseguir a minha chance. Sou novo ainda e desistir é para os fracos!”, ressalta.[/colored_box]

Jogador da base tem de superar barreiras

Tornar-se um profissional da bola ainda é o desejo de milhões de meninos. Além de ser o esporte favorito da maioria dos brasileiros, a chance de mudança de vida é ainda um fato neste meio. Porém, o processo é complicado. A transição de um amador, das categorias de base, para o time profissional é um dos momentos mais difíceis. Por isso, é preciso formar muito mais que um simples atleta.

Além da pressão por resultados e cobranças, a rotina de um jogador de futebol é meio ingrata: treinos, viagens e pouco contato com a família. “Não vejo minha avó já tem um tempo, porque no profissional são treinos em dois períodos e chego muito cansado. Às vezes, não consigo falar com ela e olha que ela mora perto, mas faz parte, tenho que seguir trabalhando e assim que der, faço uma visita”, promete Tsunami.

O zagueiro já teve experiências em grandes clubes do Brasil e sentiu um choque de realidade. “Já trabalhei no Cruzeiro (MG) e no Sport (PE). Na Toca da Raposa, a estrutura é de outro nível. É uma estrutura que a gente não vê em muitos lugares”, compara.

O atual auxiliar técnico do Leão, João Neto, foi treinador de Tsunami na base. Ele tem anos de trabalho nas categorias inferiores. “Gosto de trabalhar com jogadores inteligentes e que tenham grande capacidade de adaptação, porque o jogo pede isso. Nós cobramos os estudos, sim, porque a tática depende de jogadores inteligentes, que é a exigência do futebol e de outras modalidades”, conta Netão.

O auxiliar destaca ainda que há várias conversas com os jogadores para que eles se mantenham estimulados. “Temos que conversar e mostrar que o caminho é longo, que é de preparação, de melhoria e que continua depois, com a manutenção, que é o mais difícil. Digo que a quantidade de suor até conseguir a oportunidade é grande, que o ambiente do futebol é muito competitivo e difícil, mas trabalhar é o caminho para se chegar nos objetivos”, encerra.

[colored_box color=”yellow”]Zagueiro que perdeu espaço acabou emprestado

Alguns jogadores do Remo já tiveram sua oportunidade, mas que não foi aquela realmente necessária para que pudessem ter uma boa sequência. Um dos jogadores foi o zagueiro Igor João, sempre bastante elogiado pelos treinadores de base, mas que ainda não conseguiu se firmar, ganhando poucas oportunidades, principalmente este ano.

Em 2015, Igor João chegou a ter uma sequência como titular em partidas do Campeonato Paraense, da Copa Verde e da Copa do Brasil, chegando até a marcar um gol contra o Atlético (PR). Este ano, ele teve mais uma chance na equipe, porém recebeu uma notícia que não esperava.

“Quando me disseram que seria emprestado para o São Raimundo, foi um baque. O técnico ainda era o Marcelo Veiga e eu vinha tendo uma boa sequência, treinando bem, entrando bem nos jogos, mas recebi a notícia que seria emprestado. Foi complicado, mas segui treinando”, revela o defensor, que também ressalta a dificuldade de ganhar espaço, vindo da base.

“Os treinadores têm as preferências deles, não é? São poucos os clubes que dão esse espaço para quem sobe para o principal, mas vou seguir trabalhando firme em busca da minha oportunidade”, afirma Igor.

Defendendo as cores do time santareno na Série D, o zagueiro se diz bem à vontade com os novos companheiros e com essa nova experiência. Igor João destaca que isso vai lhe ajudar bastante quando o empréstimo terminar.

“Depois do empréstimo, fiquei mal, mas há males que vem para o bem. Estou tendo uma boa sequência aqui no São Raimundo e isso vai ser fundamental na minha volta ao Remo. Vou voltar e mostrar que tenho condições de ser titular em qualquer time”, finaliza Igor João, que atualmente tem 23 anos.[/colored_box]

Diário do Pará, 31/07/2016