Cacaio
Cacaio

A mudança foi drástica e se operou em menos de um mês. O Remo saiu do inferno e ascendeu ao paraíso. A lua-de-mel com a torcida, justificada pela heroica arrancada na Copa Verde e no Campeonato Paraense, ainda está por se completar nos jogos que vêm pela frente, mas algumas figuras merecem destaque nesta caminhada que espelha bem a natureza absolutamente imprevisível do futebol.

Cacaio é o grande responsável pela reversão de expectativas no Baenão. Assumiu e dois dias depois já fez o time jogar com inesperada pegada competitiva contra o Atlético (PR). Perdeu logo depois para o Paysandu, mas não mudou de atitude. Marcação forte, briga pela bola em qualquer parte do campo e solidariedade em campo. Sem a bola, todos combatem.

Parece simples – e é, mas dá trabalho, exige muito treino. Cacaio teve pouquíssimo tempo para esses ajustes, mas encurtou caminho ao contar com a boa vontade do elenco e aí entra o mérito da atual diretoria de escolher um treinador com vivência no futebol regional e que conhecia quase todos os jogadores. Foi provavelmente o único acerto da gestão de Pedro Minowa até aqui.

Ao estabelecer regras básicas de convivência, levando em conta o mérito e a dedicação de cada um, ganhou a confiança de todos e pavimentou o caminho para a plena recuperação do time.

Além das turbulências financeiras, Cacaio teve que enfrentar desafios externos poderosos, como o nivelamento do Campeonato Paraense e o cruzamento direto com o rival bicolor na semifinal da Copa Verde. Ainda terá muito a fazer nos próximos dias, em jornadas duríssimas contra Independente e Cuiabá (MT), mas seu trabalho já é reconhecido.

As entrevistas dos jogadores depois dos jogos revelam que a troca de treinador foi decisiva. Sem detonar o antecessor Zé Teodoro, manifestam a convicção de que agora todos têm oportunidades iguais. Acima de tudo, acreditam nas palavras do novo técnico. Em meio à descrença generalizada em relação aos dirigentes, o elenco resolveu apostar tudo em Cacaio. Está dando certo.

Jogadores como Ratinho, Ilaílson, Igor João, Ameixa, Alex Ruan, Sílvio, Fabrício e Val Barreto voltaram a ser relacionados. Eduardo Ramos passou a assumir as responsabilidades que um meia-armador de seu nível precisa ter. Fabiano se consolidou como titular no gol, depois de um período de incertezas na gestão de Zé Teodoro.

Há quem considere Cacaio apenas um “bombeiro”. Na linguagem futebolística, significa que é um profissional especialista em solucionar crises, apagar incêndios, mas que não sustenta trabalho mais duradouro. Não se pode afirmar isso em relação ao técnico do Remo, pela simples razão de que ainda não teve oportunidades de fazer trabalhos de médio e longo prazo. No Cametá e no Paragominas ficou por menos de 6 meses.

Sua grande chance é agora. Ao Remo caberá, dando-lhe as condições necessárias para o trabalho, se beneficiar dessa coincidência.

Blog do Gerson Nogueira, 28/04/2015