Dadá, Mateus Carioca e Alberto
Dadá, Mateus Carioca e Alberto

O que menos ajuda o Remo a esta altura é ficar se lamuriando pelo que deixou de fazer ou pelo que não soube ganhar. Um exemplo: viúvas azulinas de Mazola Júnior “cornetam” que a caminhada de volta à Série D seria mais tranquila sob a batuta do marqueteiro treinador.

Está aí um troço que nunca se irá saber, pois Mazola está no Botafogo (SP) e o Remo é comandado por Zé Teodoro, um técnico muito mais credenciado e vencedor. Em um esporte cheio de variáveis como o futebol, não significa que Zé vá dar jeito na situação azulina, mas fatos são fatos – e precisam ser ditos.

Na verdade, o dilema remista é bem mais profundo do que esses bate-bocas inócuos de mesa de bar ou resenhas de escritório, que costumam decretar bobamente que os males do clube passam por “ciúme de homem” ou vaidade excessiva entre a cartolagem.

Ciumadas são normais, seja em ajuntamentos masculinos ou femininos. É claro que não respondem pela sinuca de bico em que o Remo está metido há uma década.

Sim, porque o Remo está sem vencer algo realmente relevante desde o Campeonato Brasileiro da Série C em 2005. Naquela época havia muita desavença interna. Ainda assim, com esforço de alguns poucos e aquela faísca de sorte que segue os vencedores, o time derrotou todos os obstáculos, inclusive suas próprias limitações.

Desde então, o que fez o clube? Desfez elencos a cada 6 meses, trocando de técnicos em espaço ainda menor de tempo. Abandonou a política de revelar jogadores e garimpar reforços regionais. Naquele time de 10 anos atrás, pontificavam peças genuinamente paraenses, como Landu, Magrão, Marquinhos “Coração de Leão” e Márcio Belém. Não eram peças questionadas, eram titulares.

A rotina do clube tem sido a de abrir mão dos bons valores, quase sempre de graça ou a preço de banana. São raros os casos de bons atletas revelados (Deus sabe como!) que foram aproveitados. Parece repetitivo, mas está aí a raiz de todos os problemas. A cartilha é obrigatória: todo time que luta contra a falta de patrocínio e as dificuldades normais das competições deficitárias precisa investir tudo na formação de jogadores.

De 2010 pra cá, o Remo já perdeu muita gente que poderia ter pelo menos significado lucro para os cofres do clube. Cicinho, Thiago Cametá, Betinho, Heliton, Rodrigo e Jhonnatan saíram de graça. Rony, Alex Ruan, Igor João e Sílvio são as exceções no time atual, embora até mesmo Rony quase tenha saído no final de 2014. Ele é simplesmente o melhor atacante surgido no Baenão nos últimos anos.

É esta realidade que o Remo precisa encarar de frente e fazer o possível para não repetir erros tão absurdos e recorrentes. Para tanto, a nova diretoria precisará, além de vitórias em campo, contar com o apoio de conselheiros e colaboradores realmente engajados no projeto de recuperação do clube.

O primeiro passo é evitar as contratações amalucadas, de veteranos como Zé Soares e Leandrão, que só interessam aos empresários sabidos que rondam os clubes mal administrados. A partir daí, caberá ajustar as despesas, evitando gastar mais do que pode e esforçando-se para produzir receita, a partir da apaixonada torcida.

Quando isso tudo estiver encaminhado, o Remo poderá enfim olhar para jogos como o desta noite contra o Cametá com a serenidade necessária para entender que sua real grandeza. Isso significa que não pode jamais se comportar como um combinado formado às pressas e sem compromisso para ir conhecer as belezas do Baixo Tocantins. Grandes clubes são confiantes e se impõem sempre, joguem aqui ou na China.

Blog do Gerson Nogueira, 18/03/2015