Fabiano
Fabiano

Se Val Barreto é “Matador”, Fabiano é “Paredão”. O goleirão azulino de 1,86 m, que esbanja simpatia e garra, caiu faz tempo nas graças da torcida e essa admiração só cresce. Apontado como um dos grandes responsáveis pelo conquista da Taça Cidade de Belém, este paulista de 36 anos, que joga no gol desde os 8, está feliz por estar em Belém com sua família e, mais ainda, por estar no Clube do Remo há quase um ano e meio, fazendo parte da história de glórias do clube.

Você sempre quis ser goleiro?

Sempre! Minha mãe dizia que quando a gente ia brincar, ela ficava chutando a bola pra eu defender. Isso com 3, 4 anos de idade. Nasce com a gente, porque geralmente você chuta a bola, ela chutava pra eu defender. Então é um dom que Deus deu pra mim. Eu não era aquele cara que era ruim na linha e encostaram no gol, eu sempre quis jogar no gol.

Você tem alguma formação acadêmica?

Eu terminei o terceiro colegial e, enquanto era juniores, entrei na faculdade de Odontologia, com 17 anos. Cursei até o terceiro ano enquanto era amador e, no dia que assinei o contrato profissional, com 20 anos, terminei o terceiro ano. Mas aí não deu mais para conciliar os jogos e concentrações, porque minha faculdade era à noite, então tive que trancar, no início do quarto ano, para viver o sonho de ser jogador profissional de futebol. Não tinha como conciliar e tive que escolher. Ou me tornava dentista ou jogador de futebol. Fui pelo o que o meu coração mandou e deu no que deu.

Existe algum ritual para entrar em campo?

Faço a minha oração, sempre antes de entrar em campo. Peço ajuda para Deus e que ele me acompanhe em todos os momentos. Não sei se isso é chamado de ritual, mas peço uma bênção para Deus, para que tudo dê certo.

Quem é o seu ídolo no futebol? Em quem você se inspira?

Não me inspiro do tipo “ah, queria ser como o Fulano”. Procuro admirar as coisas boas que cada um tem. Dentre esses goleiros que vi jogar em toda a minha carreira, o que mais admirei, que foi o goleiro mais completo que vi jogar, foi o Taffarel. Só que costumo achar a reposição de bola do Rogério Ceni espetacular, o posicionamento do Dida maravilhoso, a explosão muscular do Fábio do Cruzeiro (MG) é fenomenal, a colocação. Então vou extraindo de cada um o que acho melhor e admirando muito para, quem sabe, poder juntar e colocar em prática.

Até agora, qual o momento mais importante da sua carreira?

Não dá para mensurar, foram vários especiais. Por exemplo, no América (RN), nós conseguimos os dois acessos seguidos, da Série C para Série B, da B para a A, que foi uma coisa inédita no Brasil, que ninguém tinha conseguido, então é especial. No Fortaleza (CE), nós fomos campeões em cima do Ceará (CE) no título mais importante para o clube, que foi o tetracampeonato nos pênaltis, e tive a felicidade de ser abençoado por Deus e pegar duas penalidades. São momentos que marcam. Agora, tudo está caminhando para que seja mais um momento muito especial na minha vida, que é aqui no Clube do Remo. Nós já fomos campeões do primeiro turno, depois de 10 anos, coisa que o clube não conseguia. Agora nós estamos em uma caminhada dura para, quem sabe, possa ser o ano que nós consigamos o título estadual, que faz 6 anos que não conseguimos, e um acesso à Série D. Seria um ano perfeito, entraríamos de vez para a história do clube.

No Remo, o momento mais importante então é esse?

Com certeza! O título do primeiro turno. Passei o ano inteiro batendo na trave, ano passado. Chegamos a duas finais dos turnos e não conseguimos, Esse ano a emoção foi imensa, em presentear a torcida que estava carente, sedenta por um título, e por nós. Costumo dizer que o torcedor do Clube do Remo está presente em qualquer situação. Se o time está bem, é pra apoiar, se está mal, é para cobrar, mas ele está lá. Então isso é uma característica do torcedor do Clube do Remo, que é excepcional.

Tem algum jogo específico que foi inesquecível para você?

Tem aquelas partidas que são dignas de deitar e ficar sonhando com elas, só que são várias. Fiz uma contabilidade um dia desses, já joguei mais de 520 partidas profissionais. Então, dentro destas, você vai ter umas 10 que vão marcar muito. Posso mensurar algumas. Essa do tetracampeonato do Fortaleza (CE). Você pegar dois pênaltis na final do título contra o maior rival, marca muito. Uma partida no América (RN), onde o acesso contra o Ipatinga (MG) foi 0 a 0. Um pressão danada e segurar o empate, também fui muito bem nessa partida. Quando conquistei meu primeiro acesso pelo São Bento (SP). Também tem uma partida contra o Noroeste (SP) que foi fantástica, que ganhamos de 1 a 0 fora de casa. Aqui no Clube do Remo, na minha opinião, existiram duas partidas que fui muito bem, que foram as duas da semifinal, contra o Paysandu, ano passado (2013), no segundo turno, que nós vencemos as duas, por 2 a 1, e fui muito bem. E do primeiro jogo da final, contra o Paragominas, que fizemos 1 a 0, aqui no Mangueirão.

O melhor termômetro para um jogador é o grito da torcida. Como é pra você ouvi-la gritar o seu nome no jogo?

É bom demais! Porque, o que falo é que todo profissional gosta de ter seu trabalho reconhecido e nós jogadores também. Então, quando você vê aquela massa gritando o teu nome, é sinal que você está agradando, que o pessoal está reconhecendo o trabalho que você está fazendo. É gratificante demais, é emocionante. Só dá para saber quem está lá dentro sentindo essa emoção. É fantástico, muito bom mesmo, e dá a maior força pra a gente dentro do campo. A torcida do Remo sabe que ela é importante. Sabe que junto da gente, nós somos mais fortes, então ela apoia. Agora no clássico, que nós fomos campeões, foi fundamental. Nós tomamos o gol e ela pulando e gritando “Vamos, Remo!”, então a gente sente lá dentro.

No primeiro turno, qual partida você estava mais inspirado?

Fiz uma partida muito boa diante do Santa Cruz, no Mangueirão, diante do Cametá também acho que fiz. Os dois últimos jogos, da final, acho que foram duas partidas muito seguras, com defesas seguras e tranquilas; transmiti tranquilidade. Porque acho que o goleiro tem que transmitir tranquilidade para os jogadores, para torcida, comissão. Acredito que nessas últimas partidas consegui e fiquei muito feliz com os resultados, com o título também.

Assim como a torcida, a gente sente que os jogadores também têm muita confiança em você. Isso é bom ou ruim?

É bom a confiança, porque é sinal que você está correspondendo, é o fato da tranquilidade. Mas sempre comento uma coisa, entre nós jogadores, que nós temos que confiar no nosso companheiro, mas desconfiando, porque ele é ser humano, é passivo de erro. Então nós temos que estar lá para ajudar o companheiro. Isso que falo sempre, não só comigo. Às vezes um zagueiro escorrega e você tem que estar esperto para ajudá-lo. Então é a mesma coisa para mim. Um dia posso falhar. Acontece.

Muita gente diz que você tem perfil de capitão e até pede que você seja. O que você acha disso?

Para mim, ser capitão não vai mudar minha postura ou meu jeito de ser. A liderança a gente não impõe para ninguém, a gente adquire com o tempo, com o respeito, e não preciso da tarja de capitão para ser quem sou. Deixo a decisão para o treinador. Não tenho esse tipo de vaidade nenhuma. Independente de quem seja, minha postura vai ser a mesma, de falar, de orientar, de gritar, porque acho que essa é uma função do goleiro. Ele vê o jogo todo de trás, então ele orienta. Claro, se for o capitão, ficarei muito honrado, acima de tudo, mas lá tem outros atletas que também merecem ser o capitão.

Como você avalia o time hoje?

Preparado e focado. Nós nos preparamos muito. Nossa preparação começou em julho do ano passado, quando ficamos sabendo que não teríamos a vaga da Série D. Nós focamos em ser campeão paraense, os atletas que aqui ficaram e os que chegaram no decorrer dessa preparação dos amistosos. O pessoal que chegou agora comprou a causa junto conosco, com o presidente, a diretoria, jogadores, comissão e está todo mundo imbuído no objetivo do Clube do Remo, que é conquistar a vaga, o título do Paraense e conquistar o primeiro passo, o acesso, porque o Remo não pode mais depender do Estadual para disputar um Campeonato Brasileiro. Então a gente conquistando uma vaga na Série D, e conquistando o acesso à Série C, o ano que vem, o Remo vai entrar em campo somente para buscar o título paraense, não para conquistar uma vaga para a Série D. Então esse é o nosso maior objetivo. O planejamento foi feito em cima disso e nós estamos galgando degrau a degrau. O primeiro passo foi dado, campeão do primeiro turno, classificado para a final. Agora vamos classificar para Série D, é o próximo passo.

Você está feliz aqui em Belém?

Belém é uma cidade acolhedora e gostei muito daqui. Me sinto muito feliz aqui, não só eu como a minha família. Um dos motivos de ano passado ter permanecido, sem campeonato para disputar, foi porque minha família estava muito feliz e eu também estava feliz no Clube do Remo, independente da situação. Gosto dos funcionários, gosto da diretoria, gosto do presidente, dos companheiros de clube, do pessoal que faz os bastidores lá. Eu sou um cara feliz, por isso a minha opção foi de permanecer.

Site Oficial do Clube do Remo, 08/04/2014