Thiago Passos
Thiago Passos

O diretor de futebol do Clube do Remo, Thiago Passos, foi visto inicialmente com certa desconfiança dentro do próprio clube devido a pouca experiência no trato com profissionais do futebol. Convidado para o cargo pelo presidente Zeca Pirão, Passos surpreendeu positivamente pela maneira firme de atuar e pela capacidade de contratar bons jogadores para a temporada 2014.

Nesta entrevista, ele revela detalhes de bastidores e esclarece o mal-entendido da quase contratação de Tarcísio Pugliese em substituição a Charles Guerreiro. Disse também que Roberto Fernandes tem 50% de chances de voltar a dirigir o Remo em 2015.

Como é ser diretor de futebol de um dos maiores clubes do Brasil? Você se preparou pra exercer a função ou assumiu por acaso?

Maravilhoso. Uma imensa alegria e uma grande honra. Me preparei tecnicamente nos últimos 5 anos, com aperfeiçoamento dos meus estudos no Direito Desportivo, bem como sobre o mundo do futebol em geral.

Quando você chegou ao Remo, o técnico Charles Guerreiro já tinha sido contratado pelo presidente Zeca Pirão. É verdade que você tentou mudar o técnico, chegando a contatar com o Flávio Lopes para iniciar os trabalhos no clube? Por que não deu certo?

Nada contra a pessoa do Charles, que sempre foi cordial e um cidadão de uma conduta muito cortês e educada, mas desde o inicio percebi que o perfil dele era incompatível com o perfil do grupo que montamos. Por isso, sabia que dificilmente daria certo. Assim, tentei mudar o comando técnico antes mesmo do Estadual se iniciar.

Após a demissão do Charles, você já tinha acertado com o técnico Tarcísio Pugliese, mas o Pirão vetou a contratação. Você não tinha autonomia como diretor de futebol?

Sempre tive o respeito e confiança do presidente Zeca Pirão e, consequentemente, a autonomia para trabalhar. Contudo, em qualquer clube do mundo, a decisão final em situações estratégicas é sempre do presidente. No caso Tarcísio Pugliese, ocorreu um mal-entendido, pois a contratação foi consensual, ou seja, já estava definida e com a anuência de todos, inclusive do Pirão. Ocorre que após o Re-Pa em que o Agnaldo foi o comandante, desci do camarote e a imprensa veio ao meu encontro questionar sobre a contratação do novo treinador. Então divulguei aquilo que já havia sido acertado. No entanto, naquele mesmo instante, todos os demais membros da diretoria, inclusive o Pirão, estavam nos vestiários e decidiram dar uma nova oportunidade ao “Seu Boneco”. Portanto, o mal-entendido se deu por uma fração de segundos entre a minha entrevista e a entrevista do Pirão.

Quem contratou mais jogadores no Remo: você, Emerson Dias ou o Pirão?

Emerson e eu.

Apesar de ser contra dirigentes contratarem jogadores, admito que vocês acertaram em muitas contratações. Não deu certo por causa do bom técnico que vocês não conseguiram contratar. Você concorda?

Acredito que se o Roberto estivesse desde o início do trabalho, nós teríamos vencido o Estadual com mais facilidade e, consequentemente, iríamos entrar no Campeonato Brasileiro mais fortalecidos. Acredito que jogadores que não renderam com o Charles renderiam melhor com o Roberto.

No Remo, penso que você foi o menos culpado pelo fracasso do clube, em relação ao acesso, apesar de pensar que o Pugliese, que era uma indicação sua, faria você errar também. É difícil achar um bom técnico?

Sim. Nós sempre tentamos diminuir a margem de erro em nossas contratações, inclusive para o comando técnico. O futebol é espetacular por isso. Profissionais de alto gabarito rendem em um clube e não conseguem render em outros. Veja o Flávio Araújo: venceu tudo no Sampaio Correa (MA), mas veio para o Remo e fracassou. Voltou ao Sampaio e está vencendo novamente*.
» Nota: Flávio Araújo deixou o comando do clube maranhense em julho.

Percebo que hoje quem mais critica você pelo fracasso foi quem já esteve na sua posição e errou muito mais. Como você vê isso?

Com naturalidade. Na realidade, sonho com o dia em que o Remo deixará de ser essa imensa fogueira de vaidades, tenho grande respeito por aqueles que fizeram a história do Remo, mas hoje estamos vivendo o nosso momento. Temos o direito de errar e acertar, como eles já tiveram e em nossos 13 meses de gestão o saldo foi insofismavelmente positivo.

Na administração Zeca Pirão vejo uma coisa muito positiva. Nos últimos 10 anos, pelo menos, o Remo montava um elenco pra cada ano. Chegou a iniciar uma temporada só com o Jhonnatan no elenco. Um absurdo. Vocês fizeram contratos longos com bons jogadores, fato que penso ser correto. Qual o percentual de jogadores desse elenco que vocês irão manter para o próximo ano?

60% desse elenco será mantido.

Você veio da Assoremo e mostrou competência ao assumir a diretoria de futebol do Remo. Como Pirão deve ser eleito com facilidade, você continuará à frente do futebol. O que faria de diferente em relação a 2014?

Aceitei o convite do presidente Zeca Pirão para assumir esse gigantesco desafio de ser diretor de futebol do maior clube do Norte. Confesso que iniciei como debutante no cargo, mas logo me adaptei. Hoje me sinto muito melhor preparado para a função. Não sei o que vai acontecer depois da eleição, mas estou à disposição do Pirão. Percebo que as pessoas que criticam o meu trabalho não entendem de fato quais as funções de um diretor de futebol. Não conseguem ou não querem perceber que vai muito além de contratar ou dispensar jogadores. O cotidiano é tão importante quanto montar o elenco, o apoio ao grupo em situações particulares é fundamental para se manter o ambiente equilibrado. Essas ações não são objetos de entrevistas e nem são visíveis aos olhos da imprensa e torcida, contudo são absolutamente indispensáveis ao sucesso do trabalho.

Penso, em relação a técnico, que ele pode ser bom como for, mas se não tiver pulso forte, como Givanildo e Davino tiveram, não dará certo no Remo. A pressão é muito grande. Por isso Flávio Araújo não deu certo. Você concorda?

Difícil dizer por que o Flávio não deu certo, mas soube que em sua passagem pelo Remo ele teria ido às vias de fato com um cartola da época, então podemos deduzir que o ambiente naquele grupo não era dos melhores.

Quem era o cartola?

Prefiro não mencionar.

Você assumiu a função mais cobiçada pelos “cardeais” dentro do Remo: a direção do futebol. A pressão sobre você é muito grande?

Muito grande. Desde o inicio, me senti pressionado de todas as formas, mas minha família me ensinou a ser forte. Portanto, quanto maior a pressão, maior é a minha disposição para superar os obstáculos. No Remo, não se joga e nem se dirige se não souber lidar com a pressão e, sem falsa modéstia, sei fazer isso.

Você concorda que, se o técnico é quem treina o time, no mínimo o elenco deveria ser montado com ele ao lado?

Sem dúvida nenhuma.

Existe algum projeto da Assoremo pra colocar mais integrantes dentro do clube? O torcedor do Remo agradeceria muito.

Tenho imenso orgulho de ser o idealizador, fundador e o primeiro presidente da Assoremo. Eu a criei com base na Assocap (Associação de Sócios do Clube Atlético Paranaense). Lá eles são efetivamente braços de gestão incidental. Aqui, estamos caminhando para isso, viemos para fazer história e já estamos escrevendo as nossas linhas no livro de vida do glorioso Clube de Periçá.

De quem foi a indicação do técnico Roberto Fernandes para o Remo?

A indicação foi minha.

Como é o seu relacionamento com o vice-presidente Marco Antônio Pina?

Profissional.

Quando o Remo inicia os trabalhos já visando 2015, até por se saber que um técnico, para realizar um bom trabalho, precisa de pelo menos 3 meses?

Ontem (07/10), nós encerramos as atividades do elenco profissional e, considerando que o Estadual está previsto para iniciar no dia 01/02/2015, a reapresentação deve ocorrer em dezembro.

João Galvão, Pugliese, Vagner Benazzi e Roberto Fernandes. Qual desses se encaixaria no perfil de pulso forte e bom técnico para dirigir o Remo, na sua opinião?

Todos são bons treinadores, mas sou adepto da continuidade no trabalho.

Isso quer dizer que Fernandes pode continuar no Remo para 2015?

Sim, tem 50% de chances de retornar.

Thiago Potiguar, por tudo que jogou nesse último jogo e no início do Parazão, ficará para 2015? Eduardo Ramos retornará ao clube ano que vem?

Potiguar é um jogador diferenciado, tem um talento acima da média e gostaria muito de contar com ele. Ocorre que ele tem passe preso ao Corinthians (AL) e ainda não sabemos se poderá retornar. Eduardo Ramos é patrimônio do Remo e retornará em janeiro.

Alguns falam de técnicos da nova geração, simplesmente por falar, mas não com base e dados concretos, por isso sempre erram. O Avaí (SC) estava indo para a lanterna na Série B, com o técnico da nova geração Pingo e está hoje na vice-liderança, com Geninho, 66 anos. Pugliese, em 2013 e 2104, fracassou no Guarani (SP), Volta Redonda (RJ), Icasa (CE) e, agora, com o Ituano (SP), sendo eliminado pelo Moto Club (MA), nessa Série D. Qual seria o perfil para você do novo técnico do Remo?

Perfil de um técnico vencedor.

Penso que você e sua diretoria fizeram uma jogada de mestre ao fazer com que toda a fórmula proposta pelo Remo passasse na FPF para o Parazão 2015. Conquistar uma vaga à Série D ficou bem menos difícil para o Remo. Foi um toma lá, da cá bem sucedido. Parabéns pelo que chamo de “o traço do ano”. Qual a mensagem que você deixa ao torcedor azulino que está triste nesse momento?

Deixo uma mensagem de verdadeiro alento, pois o Remo encerra o ano de 2014 muito mais equilibrado e fortalecido do que no final de 2013. Por isso, tenho a plena convicção de que, em 2015, o Remo sairá de uma vez por todas desse calvário que ainda vive. Quanto à proposta do Remo, o formato já está definido. Fiquei orgulhoso de ser o representante do clube na reunião do Conselho Técnico e ter aprovado as 3 sugestões que fiz: 10 equipes; chaves com 5 clubes e jogos apenas de ida; semifinal em jogo único no Mangueirão.

Blog do Gerson Nogueira, 10/10/2014