Ricardo Gluck Paul
Ricardo Gluck Paul

Foi debatido nesta quarta-feira (31/05), na Câmara Municipal de Belém, a volta das competições de futebol de base nas categorias Sub-7 ao Sub-15. A prática esportiva não ocorre em competições oficiais do calendário do futebol paraense desde 2020, devido a uma decisão do Ministério Público do Trabalho no Pará (MPT-PA).

A sessão contou com a presença do presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF), Ricardo Gluck Paul, do vereador e goleiro do Remo, Vinícius, do diretor de base do Paysandu, Ricardo Lecheva, entre outros esportistas do Estado.

Foram feitas pontuações sobre a valorização do trabalho de base, incluindo o lado social, como a importância da formação de atletas e cidadãos. Ficou definido que uma comissão formada vai se reunir com o Procurador-Chefe do MPT-PA, Dr. Sandoval Alves, para solucionar o problema.

Ricardo Gluck Paul comentou que o MPT-PA não entendeu a a importância do futebol de base e que era dever da Federação explicar.

“Quando começou esses questionamentos do Ministério Público, entendendo que os atletas da base precisam ser remunerados, tem uma série de equívocos que eles não entenderam. Não é obrigação deles entenderem, a obrigação era da Federação, era do meio esportivo, fazer eles compreenderem o sistema do futebol, fazer com que eles entendessem”, disse.

“O Sub-17 e o Sub-20, o Ministério Público está querendo entender que esses atletas sejam profissionais. Ou seja, que eles ganhem uma bolsa dos clubes para treinarem nas divisões de base. É um equívoco gigantesco”, disparou.

“O argumento principal é que esses atletas geram riquezas para o clube e que, portanto, precisam ser remunerados. Eles fazem quase uma analogia com o trabalho escravo, é um equívoco gigantesco! O futebol é uma ferramenta de transformação social. Quantas realidades de escolinhas e clubes amadores, que tem nesse trabalho de base, fazer até as vias de uma Secretaria de Saúde, de Assistência Social, de outras situações que tiram essas crianças, muitas vezes, da rua, da situação de drogas”, argumentou.

“Se pegar a receita do futebol paraense e a quantidade de vendas de atletas de base para fora do Pará, não justifica esse argumento do Ministério Público. É uma situação que precisa ser enfrentada”, reclamou Gluck Paul.

“Essa interpretação equivocada do Ministério Público está tirando oportunidades dos jovens do Pará em várias frentes. A primeira é de atingir o alto nível do futebol, porque só atinge tendo lastro, minutagem, disputando competições. Não adianta com 16 anos, que é a visão do Ministério Público, (com essa idade) ele já está fora do cenário”, apontou.

“Está simplesmente sepultando a base do futebol paraense. Por isso os atletas do Pará estão perdendo valor, não é de hoje. O mercado brasileiro já sabe que eles não tem lastro. É praticamente um milagre um atleta de alto nível vindo da base do Pará, isso não vai acontecer. Para um futebol de alto nível é um desastre”, destacou o dirigente.

Além da importância de começar cedo no futebol, Ricardo citou a relevância que o futebol de base tem na vida dos jovens.

“A parte mais desumana e que o Ministério Público não consegue compreender, e talvez não conseguimos demonstrar, além da gestão passada da Federação que permitiu que essa visão não fosse compartilhada, a maior oportunidade que está sendo castrada é a social. Se não tem competições, como se exige que os clubes remunerem os atletas de base? Isso desestimula a manutenção de um programa de base. Se não tem competição, não tem clube”, falou.

“95% dos atletas que frequentam uma divisão de base não vira profissional. O que acontece com essa grande maioria? Eles viram cidadãos. Eles são contaminados positivamente com os valores do esporte. Eles saem das ruas, esquecem os problemas de casa e vão socializar com outros jovens, disputar competições e dar sentido para suas vidas. A tragédia social é muito maior do que a tragédia profissional. É o tipo de coisa que só tem no Pará”, completou o dirigente.

“Não é uma luta só dos clubes, mas de toda a sociedade. Essas barreiras que foram impostas estão tirando dos jovens uma série de oportunidades”, alertou o presidente da FPF.

Ricardo Gluck Paul finalizou fazendo um comparativo com outros Estados e citou exemplos de jogadores paraenses que brilharam longe do Pará, sem atingir o auge mais cedo.

“Para se ter uma ideia, o atleta paraense está jogando em média 7 jogos por ano. Um garoto de 18 anos chega com 15 jogos ‘nas costas’. Tem atletas se profissionalizando no Pará com 15 jogos. Aí perguntam: porquê o Rony (Palmeras-SP) demorou para estourar? (Porquê o) Pikachu (Fortaleza-CE) demorou para estourar? Demoraram para fazer 100 jogos”, comentou.

“Se for comparar a quantidade de jogos que um atleta paraense com o de outros Estados, sabemos o motivo que o Pará está atrasado”, encerrou.

Globo Esporte.com, 31/05/2023