Baenão
Baenão

Quando na última terça-feira (16/12), em um ato de balanço público das condições em que o Clube do Remo se encontrava, os novos diretores do estádio Evandro Almeida convidaram a imprensa para conhecer e tomar pé das obras necessárias, sabiam que se tratava de uma situação difícil e não queriam iludir o torcedor com propostas miraculosas a curto prazo.

Naquela mesma tarde, o estádio passou por uma avaliação de sua estrutura por um engenheiro contratado pelo clube e as conclusões estruturais deixaram a diretoria do clube arrepiada. “Se conseguirmos finalizar as obras até julho, será um milagre. Para o Parazão, Copa do Brasil e Copa Verde não contamos mais com o Baenão”, explicou o presidente azulino Pedro Minowa.

A área que mais preocupa Minowa diz respeito aos pilares de sustentação das arquibancadas. “A avaliação do engenheiro apontou cerca de 40% a 60% de desgaste em alguns pilares de sustentação das arquibancadas. Com esse nível de desgaste, mandar jogos lá para públicos de 10 mil a 12 mil, que é a capacidade atual, seria um risco, porque alguns dos pilares poderia ruir. Ninguém quer a repetição de uma tragédia como a da Fonte Nova”, explicou o dirigente, relembrando o incidente no estádio baiano com vítimas fatais, ocorrido na última rodada da Série C de 2007.

Minowa afirma que talvez fosse possível liberar o estádio com capacidade reduzida, algo entre 4 mil a 5 mil pessoas, mas que na prática, mesmo assim seu uso seria inviável. “O estádio não dispõe de estrutura de iluminação. Não há como fazer jogos noturnos nele e a Copa Verde e a Copa do Brasil são disputadas com jogos à noite. Além do mais, teremos um calendário bem mais enxuto esse ano. Somando as dificuldades nas finanças, a ansiedade da torcida e apelo dos jogos, um estádio para essa capacidade reduzida não atinge as necessidades do clube”, disse Minowa.

Apesar de preocupante, o dirigente afirma que o laudo do engenheiro avaliou que não será necessário reconstruir as arquibancadas do Baenão do zero. “Uma intervenção de reparo pode restaurar a segurança, mas ela é cara e envolve muita mão de obra e material. Graças a Deus estamos contando com o apoio de torcedores, como a ‘Revolução Azul’, que tem arrecadado fundos para comprar argamassa e promover melhorias, mas olhando todas as dificuldades, é uma obra para pelo menos um ano de trabalho antes de deixar o estádio em condições outra vez”, lamenta o dirigente azulino.

[colored_box color=”yellow”]Gramado: o padrão é Fifa?

O piso do Evandro Almeida sempre foi lendário, mas dizer que ele era muito bom era faltar com a verdade. Há muitos anos convivendo com buracos, falhas no gramado e problemas de drenagem, o anúncio de que todo o gramado seria trocado por um novo, igual ao utilizado nos estádios da Copa do Mundo, deixou a torcida eufórica.

No primeiro teste, a partida contra o Independente, nas semifinais da Taça Estado do Pará, o gramado foi aprovado. Desde então, o estádio só recebeu treinamentos e amistosos. O torcedor não tinha como avaliar a qualidade do relvado, embora fotos de enxertos de areia e zonas irregulares tenham causado desconfiança. “O gramado está praticamente todo comprometido. Foi anunciada uma qualidade, mas ela não confere com a qualidade que foi plantada”, afirmou Minowa.

O tipo de grama, a Esmeralda, é de fato o mesmo utilizado nas competições Fifa e que o rival Paysandu utilizou na reforma do seu estádio. “O tipo de grama Esmeralda comprado não foi o ideal. O metro quadrado de gramado Fifa custa cerca de R$ 50, mas o gramado plantado foi adquirido por R$ 5,90 o metro quadrado”, apontou Minowa.

Ele desconfia que os problemas no gramado também podem ter outra origem. “Acredito que houve uma pressa no plantio do gramado. Foi colocada uma camada de areia para ajudar na drenagem e, ao que parece, o gramado foi plantado sobre a areia. Esse terreno não tem força para segurar a grama, por isso parte dela solta com o esforço”, comentou.

O Remo já contratou um engenheiro agrônomo para fazer uma avaliação e sugerir os reparos necessários. Ainda não se sabe se será necessário comprar um novo gramado. “Felizmente, o nosso engenheiro é remista e vai fazer a avaliação de graça”, comemora Minowa.[/colored_box]

Vidro temperado tem a metade da espessura que deveria ter

As velhas grades dos alambrados do Baenão, onde tantos craques e torcedores se dependuraram para comemorar gols e vitórias espetaculares do Leão Azul ao longo dos anos, deu lugar a um moderno vidro temperado. Transparente, ele permite uma visibilidade melhor do gramado e torna o espetáculo todo mais bonito – embora suma de cena a comemoração nas grades.

Entretanto, o que deveria ser modernidade, acabou se convertendo em uma situação desconfortável. Não demorou, após a instalação dos vidros, para que redes de proteção fossem armadas ao longo das linhas de fundo. Não houve uma explicação para isso à época e, como não houve jogos, não houve também questionamento da torcida.

Porém, aquelas redes guardavam um risco imenso. “O vidro adquirido tem quase a metade da espessura necessária pelas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a instalação em arenas de futebol”, afirmou Minowa.

Os vidros temperados do alambrado azulino têm 10 milímetros de espessura, enquanto a exigência é de 18 milímetros. “Quando soube que os alambrados da Curuzu foram construídos com duas placas de 8 milímetros e um vão entre elas, estranhei o nosso alambrado, mas não fazia ideia do risco a que o nosso torcedor estava exposto”, afirma o presidente azulino.

A visita da imprensa revelou que já haviam vários vidros fissurados no entorno do campo, mas para isso tem outra explicação também. “Também houve um erro na instalação dos vidros. Como vivemos em uma cidade muito quente e não há cobertura, o vidro dilata. Por isso, é preciso manter um vão de ferro ou algo similar para conter a dilatação. No Baenão, nem todos os vidros tiveram o vão instalado. Alguns são colocados um do lado do outro e, com o calor, aumentaram e se empurraram até fissurar. Você pode confirmar que algumas áreas estão sem o vidro porque precisou trocar. Já estavam muito quebrados”, afirmou o presidente, que ainda não sabe quanto vai custar a reforma dos alambrados.

[colored_box color=”yellow”]Iluminação: o trabalho vai iniciar do zero

Na partida contra o Independente, durante o Parazão, que terminou pouco depois das 18h, qualquer sinal de nuvem nos céus tornava a visão complicada e ficou a dúvida, caso chovesse ou o jogo se prolongasse até mais tarde, se haveria condição de continuar.

As torres de iluminação foram derrubadas para que os tratores pudessem colocar abaixo o velho setor de cadeiras e alambrados, mas não foram instaladas novas torres antes da reabertura. Para piorar, segundo Minowa, não restou nada da antiga estrutura para ser reutilizada.

“A fiação, cabos elétricos, tensores, refletores, lâmpadas… Não ficou nada. Vamos ter que refazer toda a parte elétrica para poder utilizar novamente iluminação noturna”, comentou o dirigente azulino.

Minowa nunca escondeu seu ceticismo a respeito do projeto de novas cadeiras e camarotes do estádio. Agora, como presidente, vê que a construção desse setor é apenas um pedaço dos problemas que a sua administração vai ter de enfrentar para poder voltar a jogar no estádio.[/colored_box]

Diário do Pará, 21/12/2014