Pela lei, atletas só podem ser profissionalizados no futebol brasileiro a partir dos 16 anos. Antes, há um “faroeste” na disputa pelos talentos entre clubes, investidores, oportunistas, crime organizado e até times de pelada. Sim, até times de pelada!
Os garotos mais pobres ganham cachês por jogos nos finais de semana que somam muito nas contas de familiares. Surgem cachês também de criminosos do tráfico de drogas para jogarem em competições que dão prestígios aos “patronos” de times da periferia.
Tudo isso desvia jovens talentosos de carreiras promissoras e produz grandes prejuízos aos clubes formadores.
Os investidores são atores legais nessa história, mas as ações éticas são exceções. Em geral, “tubarões” do mercado avançam com ofertas tentadoras e convencem os pais a descumprir compromissos e assinar nova procuração. Leva quem tem mais dinheiro e menos ética. É ou não um “faroeste”?
Circunstâncias impõem nova política para as categorias de base
Investir em desenvolvimento físico, técnico, cognitivo e emocional na formação dos atletas exige grande estrutura e custa muito caro. No entanto, é um negócio ainda sem segurança. Diante dessas circunstâncias, clubes avançam em nova política nas categorias de base. As parcerias entre clubes potencializam as perspectivas dos atletas e famílias, como também dos clubes.
O exemplo regional mais recente foi a transferência do lateral-direito Kadu, 19 anos, do Remo para o Botafogo (RJ), emprestado por um ano, com cláusula de pré-venda de 80% dos direitos econômicos por US$ 950 mil. Essa prática será crescente e está planejada para avançar grandemente no Clube do Remo.
Dar vazão aos talentos da base para clubes de diversas regiões do mundo é uma estratégia que deu muito certo no Flamengo (RJ) e começou com Marcos Braz à frente do futebol. O clube carioca encaminha os garotos e mantém largo percentual dos direitos econômicos. Assim, frequentemente cai dinheiro na conta.
Marcos Braz está desenvolvendo a mesma política no Remo, mas isso não é novo por aqui. Vários clubes paraenses têm ou já tiveram parcerias do tipo. O que está sendo feito no Remo é um projeto para “potencializar” esse fluxo.
Quando o clube se destaca por oportunizar carreiras, passa a ser visto como preferido na região pelos pais dos jovens atletas. Afinal, talentos no futebol logo criam na família a esperança de alavancar as finanças. Isso também cria pressão na criança ou no adolescente, cabendo aos clubes formadores agir em todas as frentes, inclusive junto às famílias, para evitar transtornos.
O futebol é cada dia mais mercadológico, tanto na categoria profissional como no semi-amadorismo. O êxito exige serviço de excelência. Clubes que fazem trabalhos protocolares na base e que visam mais títulos do que a formação responsável, vão seguir patinando e não chegarão a lugar nenhum.
O assunto é discutível, mas tornou-se utopia em clubes de massa ter uma base formada por frutos do próprio clube. Nesse futebol que exige tanto de força, velocidade, resistência física, capacidade cognitiva para funções táticas, inteligência emocional e poder de decisão, é muito mais difícil construir uma carreira de sucesso.
As famílias têm papel fundamental na construção da carreira do filho. Uma decisão equivocada dos pais levados pelo assédio de maus agentes pode botar tudo a perder – e isso é muito comum! Esse “mundo do futebol” é cheio de deslealdade. Inúmeros talentos ficam pelo caminho por erros, irresponsabilidades ou desonestidades cometidas no entorno.
Coluna de Carlos Ferreira, O Liberal, 11/08/2025