Paulo Bonamigo
Paulo Bonamigo

Conquistar um aceso no Brasileirão em um ano e não se planejar para permanecer ao menos uma temporada na competição, é uma cilada! As consequências são severas e o Clube do Remo é o exemplo perfeito, pois vive até hoje a ressaca do retorno à Série C, mesmo após 4 meses da tragédia anunciada que foi o bate-volta na Série B.

A dor de cabeça tem sido tão grande que o moral azulino ainda sofre com o descenso, com a tontura que tem sido a elaboração do planejamento neste ano. O retorno à Série C somente 9 meses depois de chegar à Série B foi a gota d’água no que se refere à incompetência administrativa voltada ao futebol, conforme ressaltado pela torcida.

O ponto fora da curva foi a conquista do título da Copa Verde. Desidratados com as promessas de uma montagem de um plantel de ponta rumo as conquistas em 2022, o que se viu até aqui foi características fortes do “porre da queda” – a ausência de fígado para voltar à sobriedade e catar os cacos, vista embaçada nas análises estratégicas lançadas até aqui e mal-estar geral pela insistência nos mesmos erros, que culminaram como descenso vexatório.

O zagueiro Marlon, capitão da equipe e um dos líderes do grupo, tratou de entender a impaciência do Fenômeno Azul, ao fazer um apanhado dessa situação delicada vivida pelo time desde o final do ano passado.

“A cobrança do torcedor está certa. A gente vem de um rebaixamento. Eles esperavam muito mais da nossa temporada no ano passado. Infelizmente, não aconteceu, mas é o que a gente fala: procurar trabalhar para que mude o mais rápido possível e a gente faça grandes jogos e dê alegria ao nosso torcedor. Porque sabemos que ele gosta de vitórias e elas não estão vindo. São 4 empates. Os torcedores estão para baixo e temos que voltar a vencer o mais rápido possível que o torcedor vai voltar e vai empurrar a gente. Com eles, somos mais fortes”, observou.

A ressaca azulina conta com uma personalidade para tentar tirar a equipe do poço de lamentações e encarar de frente as consequências de um planejamento ruim – o técnico Paulo Bonamigo. Considerado pela torcida o responsável em levar o time à Série B após mais de uma década fora da competição, o comandante tem sentido na pele o reflexo da queda ao ter visto o seu trabalho ser chamuscado pela ausência de uma resposta mais contundente depois do baque.

Ciente disso, o treinador entendeu que ainda faltam situações a serem feitas para um melhor aproveitamento individual e coletivo, e garantiu empenho ao máximo para alcançar essa meta. Confira abaixo a visão do comandante sobre a fase ruim vivida pelo Leão em 2022.

A queda para a Série C ainda afeta o moral do time?

A queda, evidente, entristece muito o ambiente, principalmente o fator externo. No fator interno, estamos procurando trabalhar o emocional do grupo. Tem poucos jogadores que são remanescentes do ano passado e tivemos que reconstruir uma equipe. Precisamos fazer resultado em um momento que o torcedor quer uma equipe vencedora e todo ano se reconstruindo é muito difícil. Estamos em um caminho, todos trabalhando com muita disposição e vamos crescer no momento certo.

O elenco precisa de uma repaginada rumo à mudança?

O elenco é esse. O torcedor sabe que no Norte do país existe dificuldade em trazer jogadores para disputar o Parazão. Por mais que tenham boas ofertas, é um sacrifício e um trabalho árduo trazer jogadores para formar um time competitivo, a competitividade com outros mercados, especialmente da faixa central de São Paulo e Rio de Janeiro, faz com que os atletas deem preferência para essas competições. Fizemos algumas apostas, umas deram certo e outras nem tanto. Isso faz parte do futebol, mas o importante é que estamos criando uma identidade. Estamos devendo pelos empates, mas confiantes no crescimento, especialmente por esse tempo que estamos tendo para trabalhar.

Em linhas gerais, o que está faltando para o time engrenar?

É vencer. Mostrar a esse grupo a ambição de uma conquista. Eles estão vestindo uma camisa gigantesca, com uma torcida fantástica por trás disso. Temos que crescer no momento certo. A gente sabe que vai entrar em um novo campeonato. Todas as equipes se reconstruindo e se reformulando no campeonato. A fase agora é de mata-mata e decisiva, onde o espírito de decisão tem que se fazer presente.

Mesmo sendo uma das primeiras equipes a iniciar a preparação, o time ainda não encontrou a regularidade. O que você aponta para isso?

A apresentação foi quase igual aos outros clubes do futebol do Pará. Evidente que tivemos alguns atletas, como Everton Sena e Marciel, que precisaram de procedimentos clínicos e uma preparação mais tardia. As próprias chegadas do Brenner e do Bruno Alves, que fizeram uma mini pré-temporada conosco. Tirando o problema do Felipe Gedoz e a chegada há pouco tempo do Leonan, são peças que não estiveram desde o início da preparação. Tivemos que ajustar isso dentro da própria competição e buscar uniformidade de performance. Acho que em termos de jogo, a equipe está em uma evolução. Evidente que os resultados não ajudaram. Se tivéssemos 2 vitórias, contra Tuna e Águia, teríamos 4 pontos a mais e seríamos a melhor campanha geral da competição. São detalhes que precisamos somar. Tivemos a infelicidade também de contar com a tabela no começo com muitas viagens. Praticamente não tivemos condições de treinar. Fomos duas vezes a Parauapebas, uma a Paragominas, jogando quarta-feira e domingo. Isso atrapalha um planejamento de regularidade. Infelizmente, dois resultados que considero ‘fora da curva’ foram esses empates, que nos deixariam como a melhor equipe junto do nosso tradicional adversário.

Diário do Pará, 13/03/2022

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