Celsinho
Celsinho

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) julgou o caso de injúria racial sofrido pelo meia Celsinho, do Londrina (PR), nesta sexta-feira (24/09), em audiência virtual. O Brusque (SC) e um conselheiro do clube responderam por um “ato discriminatório” contra o jogador da equipe paranaense e foram condenados.

A punição ao clube catarinense é a perda de 3 pontos na Série B do Brasileirão, além de multa de R$ 60 mil. Assim, a equipe, que estava com 29 pontos na tabela, passa a ter 26.

Júlio Antônio Petermann, presidente do Conselho Deliberativo do Brusque (SC), autor das ofensas, foi suspenso por 360 dias e multado em R$ 30 mil.

A decisão, proferida pela 5ª Comissão Disciplinar do STJD, foi em primeiro grau e cabe recurso.

“Por qual motivo vamos discriminar um atleta pela sua cor? Isso é inconcebível para mim. Temos que evoluir. O dirigente disse estar afastado, mas está falando do clube. O clube ainda soltou uma nota bizarra. Infelizmente, não tenho como tirar uma vírgula do voto do relator. Vamos acabar com isso, vamos acabar com gritos homofóbicos. Hoje isso é inaceitável e não cabe mais”, disse o auditor Otacílio Araújo, presidente da Comissão.

A ofensa a Celsinho ocorreu no dia 28/08, no confronto válido pela 21ª rodada da competição. O jogador afirmou que foi chamado de “macaco” por um membro do staff adversário. Na súmula, o árbitro Fábio Augusto Santos Sá relatou que o meia ouviu a frase “vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha” ao final do primeiro tempo. Júlio Antônio Petermann foi identificado como o autor da ofensa.

“A expressão ‘macaco’ foi no início do segundo tempo, quando saímos do banco de reservas para aquecer, foi onde saiu a palavra macaco. Isso ouvi bem alto e claro, só não relatei para não apontar uma pessoa errada. Quando fiz a primeira denúncia, foi no intervalo do primeiro tempo e o ‘macaco’ foi no início do segundo tempo e confirmei isso ao final da partida, quando um repórter me fez a pergunta”, afirmou Celsinho, em seu depoimento.

“É pesado e constrangedor ter que dar satisfação ao meu filho mais velho, de 14 anos, que entende mais, que as pessoas ainda usam esse tipo de crime. O maior peso, onde realmente me machucou emocionalmente, foi pelo lado familiar, ver minha esposa chorando, meu filho chorando, meu filho mais novo sem entender e eu tendo que explicar que ele não tem que aceitar isso. É por isso que vou até o final nesses casos, justamente por isso, por mexer com meu lado familiar”, disse o jogador.

“Em nenhum momento vou ao estádio pedir que as pessoas me insultem. O tom que ele usou foi de raiva, mas o que me incomodou mais foi que ele se sentiu muito confortável em falar isso, como se de fato ele tivesse atingido o que queria, como se fosse algo prazeroso e conseguiu, porque fiquei fora de mim”, completou.

O Brusque (SC) e o conselheiro foram enquadrados no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) por “praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito”.

Em seu depoimento, Júlio Antônio Petermann tentou se justificar.

“Na realidade, o que aconteceu é que eles estavam entre o banco e o alambrado se aquecendo e ali e estavam xingando o Brusque (SC). Teve uma hora em que me irritei e realmente proferi ‘cachopa de abelha, vai jogar bola’. Isso foi um momento inadequado, onde o jogo estava quente, o pessoal xingando a gente. Queria aproveitar e pedir desculpas, se realmente o ofendi, e a todo o pessoal que possa ter ofendido. De maneira nenhuma quis ofender e não imaginei que pudesse dar essa confusão toda. Nessa região é muito comum chamar ‘pessoas assim’ de cachopa de abelha. Jamais iria proferir isso para ofender o Celsinho ou qualquer outra pessoa”, declarou.

Após o acontecido, o Londrina (PR) divulgou um vídeo nas redes sociais em que é possível ouvir um grito de “macaco”. A postagem foi uma resposta ao clube catarinense que, em um primeiro momento, falou que Celsinho estava sendo “oportunista” ao denunciar o racismo.

Depois, o Brusque (SC) se desculpou e adotou duas medidas sobre o caso – afastamento do conselheiro acusado de racismo e instalação de câmeras para captar o áudio das arquibancadas. Por causa do episódio, o clube perdeu um patrocinador.

Não foi a primeira vez que Celsinho sofreu com o racismo na Série B do Campeonato Brasileiro. O meia do Londrina (PR) também ouviu ofensas nas partidas contra Goiás (GO) e Remo, ambas no mês de julho. A diferença é que em nestes casos, os agressores eram radialistas que trabalhavam na cobertura das partidas e, por este motivo, os clubes não foram denunciados.

Globo Esporte.com, 24/09/2021

3 COMENTÁRIOS

  1. Foi até branda a sentença do STJD por injuria racial, pois na ocasião a diretoria do Brusque se posicionou formalmente acatando o racismo do seu diretor e ainda atacando o Celsinho como farsante.

    O Brusque merecia uma punição mais dura como o rebaixamento imediato e banimento definitivo dirigente racista.

    Racismo, homofobia, misoginia e qualquer tipo de preconceito não são toleráveis e merecem punição exemplar. É preciso respeitar o próximo, afinal somos todos irmãos e filhos de Deus!

  2. Eu pensei que fosse o cabelo dele, mas foi “macaco” é realmente tem que punir, porém, se fosse do cabelo? porque outro dia o comentarista daqui de Belém comparou o cabelo dele de “nino de passaro ou rato” nao lembro bem, foi afastado, nao achei uma ofensa, mas o mundo de hoje está assim: sem graça, violento, insuficiente para viver, muito mimimi, entretanto “macaco” fica pesado, nao pela palavra e sim no modo como é atacado.

  3. Dez para este jogador. A punição, ainda, foi branda. Espero que no nosso Leão, filho da glória e do triunfo, isso nunca venha acontecer.

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