Fábio Bentes
Fábio Bentes

A partir das 16h desta sexta-feira (17/04), entrarão em cena os dirigentes do futebol paraense. Todos os 10 clubes do Campeonato Paraense 2020, além dos gestores da Federação Paraense de Futebol (FPF), estarão reunidos, em videoconferência, para definir os rumos da competição estadual, paralisada para evitar a propagação do novo coronavírus.

No entanto, não se tem convicção de que a reunião, de fato, terminará com deliberações. A FPF, apoiada em argumentações do Tapajós, apresentará uma proposta de conclusão do Parazão em dezembro, após a Série C do Brasileirão. Na ideia, estaria descarta o rebaixamento.

Inicialmente, a proposta foi analisada de forma favorável por, pelo menos, 8 clubes, mas já não há tanta aceitação em função do impacto financeiro que causará.

O principal articulador contrário a proposta é o Paysandu, que já manifestou opinião contrária a ideia de jogar em dezembro, alegando que é um mês de pouca movimentação financeira e de rescisões contratuais. Além disso, o presidente Ricardo Gluck Paul teme os efeitos da pandemia.

O Remo, por sua vez, aprova a proposta do Tapajós. O fato é que há divergências que tornam um consenso quase que impossível.

O regulamento da Federação Paraense de Futebol (FPF) é enfático ao falar que qualquer mudança no regulamento da competição, quando já iniciada, precisa ter a aprovação de todos os 10 clubes. Foi o argumento utilizado para derrubar a ideia inicial, proposta pelo Paysandu, que era encerrar o Parazão mantendo as colocações atuais.

Nessa proposta, o time bicolor seria declarado campeão, com o Remo sendo vice, além de Castanhal e Paragominas, respectivamente na 3ª e 4ª colocação, classificados para a Série D e Copa do Brasil.

Além do Paysandu, outros 7 clubes apoiavam a ideia, mas a FPF derrubou a ideia, apresentada em reunião na semana anterior, por ser considerada uma alteração ao regulamento, o que precisaria, obrigatoriamente, da aprovação dos 10 clubes.

Como já é de conhecimento comum, o Paysandu deve se opôr a ideia de jogar as demais partidas do Campeonato Paraense 2020 em dezembro. Ainda estão pendentes 2 rodadas classificatórias, além de semifinais e finais.

“Não tem como, é impossível chegarmos a um acordo nestes termos. Com a mesma truculência (da FPF), induzindo patrocinadores a erros, falando de contrato, podemos falar que vendemos o campeonato dentro de uma temporada. O calendário brasileiro, para clubes da Série C, se encerra em novembro. Os nossos contratos se encerram em novembro”, alegou o presidente bicolor.

“A Federação tem um descolamento da realidade que nos indigna. Vocês não tem ideia de como o clube estará em dezembro após essa crise. No Brasil, já se fala de recessão acima de 6%. Como o Paysandu estará em novembro? Após um esforço fora do comum, com pouca ajuda, chegar em novembro e pensar em renovação de contrato? Eles estão vivendo no mundo da lua”, acusou.

“Se quiserem propor algo até o mês de novembro, podemos conversar. Em dezembro, está fora de questão”, garantiu.

“Dezembro é um mês que arrecadamos pouco, tem que fazer rescisão e querem me empurrar mais gastos? Mais um mês de folha? Estão loucos”, avaliou.

A opinião do mandatário é apoiada pelo técnico Hélio dos Anjos, que também discorda da ideia de jogar o Parazão em dezembro.

“Veja bem, o Tapajós não quer cair”, citando que o autor da proposta tem interesse particular na proposta formulada.

Segundo ele, o clube bicolor não pode arcar com uma despesa de manter o plantel até o final do ano, sobretudo, diante do cenário de indefinição econômica.

“O Paysandu não tem jogador com contrato até dezembro. Quem pode dizer que o calendário da Série C não vá precisar dessas datas?”, questionou Hélio.

“A reunião vai terminar do jeito que terminaram as outras, não vai chegar em lugar nenhum, não tem nem como discutir isso”, finalizou.

Apesar disso, o comandante bicolor afirmou que a disputa tem que ser definida com a bola rolando.

“A disputa precisa ser definida em campo. Não vejo futebol no Brasil, pelo menos, até agosto”, apontou Hélio, que considerou inadmissível uma ideia de que um Re-Pa seria a final do certame com os demais clubes mantendo as posições do momento.

“Proposta inaceitável. Vai desprestigiar os times do interior. O futebol paraense não se restringe a Remo e Paysandu”, concluiu.

Em geral, a dupla Re-Pa está em campos opostos. A questão da sequência ou não do Parazão 2020 também coloca os titãs do futebol paraense em conflito. O Remo não aceita a ideia inicial de concluir o campeonato, decretando o título do Paysandu, que é o primeiro colocado após 8 rodadas da fase classificatória.

“Nem terminamos de disputar a primeira fase, não dá para declarar um campeão”, garantiu o presidente azulino, Fábio Bentes, que gostou da proposta do Tapajós, para encerramento do campeonato em dezembro.

“Se os clubes não quiserem esperar (até dezembro) por questões financeiras, tem que considerar duas coisas: não dá para proclamar campeão quando não se terminou nem a primeira fase da competição. São 3 fases distintas (classificatória, semifinal e final). Outra situação: pode ser que precise devolver dinheiro”, disse, referindo-se a verba de patrocinadores.

Aliás, Banpará e Funtelpa já deixaram claro através de ofícios direcionados à FPF que defendem a conclusão do campeonato em campo.

O treinador remista Mazola Júnior opinou sobre o assunto e fez questão de ressaltar que se trata de uma ideia mantida por ele e não exatamente pela instituição.

“Falar-se em data é irresponsabilidade. Aqui em São Paulo, por exemplo, vão terminar os Estaduais. Essa reunião que terá pode até definir uma coisa. Que as coisas se decidam no campo e que tenhamos calma e prudência”, recomendou.

O Liberal.com, 17/04/2020