Eudes Pedro
Eudes Pedro

Eudes Pedro conversou pela primeira vez com a imprensa depois de ter sido anunciado como novo técnico do Remo e o fato de ainda ser um desconhecido na função levantou várias questões e tornaram e entrevista mais longa que de praxe.

O treinador falou sobre um possível sentimento de desconfiança da torcida por ser novo no cargo, detalhou qual estilo de jogo pretende implementar em campo – em todas as categorias – e ainda citou projetos que almeja deixar como legado ao clube paraense.

O novo treinador do Remo demonstrou muita ambição na nova empreitada. Ele salientou que traz na bagagem muita experiência e vê com naturalidade a transição do cargo de auxiliar para o de técnico.

“Minha decisão de virar treinador já vinha há 2 anos com o Cuca, até pela necessidade de ele achar que daqui a algum tempo deve estar parando e eu tenha que dar a continuidade. Quando o Remo me chamou, não tive dúvida. Os contatos que estou tendo com a torcida estão sendo maravilhosos”, disse.

“Estou vindo bem indicado por alguns treinadores, mas isso não vai me dar uma condição de chegar aqui e ser bem-sucedido. O sucesso vai estar dentro de campo e os resultados é que vão dizer. Sou uma pessoa que cobra bastante no dia-a-dia e tenho um estilo de jogo agressivo, igual ao Cuca. São 15 anos trocando ideias e vendo que o nosso futebol brasileiro perdeu um pouquinho da identidade”, afirmou Eudes.

“Meu primeiro desafio aqui é que o time jogue com a cara da torcida. Já externei isso aos atletas. Espero contribuir bastante com o Remo. Já falei para o presidente que espero sair daqui só quando estiver na Série A do Brasileirão”, revelou.

Eudes Pedro contou que passou 2 anos preparando um novo auxiliar técnico para Cuca antes de seguir carreira solo. Desde fevereiro, quando concluiu a “Licença A” da CBF, vinha buscando um clube para trabalhar. O Remo foi o primeiro a reunir os principais requisitos que ele gostaria para seu primeiro trabalho.

“Minha preocupação eram duas. Primeiro, uma estrutura mínima possível para se desenvolver um trabalho, porque não adianta você ter conhecimento sem ter uma estrutura; Segundo, ser uma grande equipe. Estavam em andamento 3 projetos meus e, quando surgiu o Remo, não tive dúvida. É uma grande equipe, tem uma estrutura boa e tem um presidente que está tentando resgatar um clube e que esteja em dia com as suas obrigações. É uma pessoa que, no primeiro contato ele e a diretoria, mostraram seriedade. Isso me cativou”, resumiu.

Também ficou perceptível a motivação do treinador com a nova carreira. Ele afirmou que o fator financeiro não pesou em sua decisão e que recusou um cargo na comissão técnica do São Paulo (SP), com Cuca.

“Quando a gente inicia, não se preocupa muito com questão salarial. Poderia estar de volta ao São Paulo (SP), tive o convite para voltar (como auxiliar), mas minha decisão de ser treinador não tem volta e aí surgiu o Remo. Acho que essa é uma equipe grande, que está me dando oportunidade e quero retribuir com títulos e fazer essa torcida maravilhosa feliz. Sei que a gente vai ter muita dificuldade, mas esse é o meu objetivo”, contou.

Eudes Pedro já assumiu o comando da equipe e estará a frente nos dois jogos contra o Atlético (AC), pela Copa Verde. Sua estreia no cargo será na próxima terça-feira (03/09), no Acre. O técnico azulino adiantou que, à princípio, não haverá grandes mudanças no time.

Confira outros trechos da coletiva com Eudes Pedro:

Visão do futebol

Sou um estudioso, gosto de ver futebol. Vejo jogos da Série D, C, B e A, e estamos em um momento de um pouquinho de perda de identidade. A gente vê jovens sendo revelados com pouca capacidade de improvisação, de criatividade e, quando a gente vê, ele já vira um “best-seller” ainda guri. Esse foi um desafio. Na minha primeira etapa de vida, graças a Deus, conquistei muitas coisas e preferi sair da zona de conforto agora para assumir de verdade. É minha segunda etapa de vida. Fico muito grato pelo convite do presidente. Logo nas primeiras conversas, a gente viu que é um clube sério, honesto, que tem dificuldades como outros pelo Brasil, mas que luta para se manter e tem essa torcida maravilhosa.

Estilo de jogo

O sistema de jogo, vamos definir de acordo com o nosso adversário, mas o modelo de jogo não abro mão: quero um time bastante ofensivo, brigando pela bola o tempo todo, inclusive os trabalhos são todos direcionados. Hoje (quinta-feira) já começamos esse tipo de trabalho, porque quando você está com a bola no pé, é difícil você levar gol, você está com o controle do jogo, mas quando você deixa a bola com o adversário, a possibilidade de você levar um gol é muito maior. Quero um time compacto, que defenda com 8 ou 9, como ataque com 8 ou 9. Não adianta você ser um time bem defensivo e quando vai atacar, está com inferioridade numérica.

Vi muitas coisas acontecerem aqui no Remo, em alguns jogos, nessa situação. Amanhã (sexta-feira), vamos passar um vídeo do clássico tentando corrigir posicionamentos e mostrar para eles, porque às vezes falar o cara não entende, mas vendo é outra coisa. No Remo, a gente precisa agredir mais. Tirando o gol que a gente fez contra o Paysandu, qual foi o outro chute que a gente deu no primeiro tempo? Nenhum, isso incomoda, mas é treinamento, dia a dia, conversa. Tenho certeza que esse time vai ter outra cara.

Primeiro contato com o elenco

Tive a felicidade de ter o Márcio (Fernandes) como treinador, é um amigo também. Costumo observar jogos dos amigos e assisti vários jogos do Remo. Assisti aos jogos contra o Paysandu, alguns na Série C e já tenho uma noção de cada jogador. Yuri já trabalhou comigo no Atlético (MG) e é um grupo jovem, que quer vencer também, como todo grupo também tem algumas dificuldades, mas já conheço bastante a maioria dos jogadores.

Utilização de jovens no time principal

Sou muito inquieto, o presidente sabe. A gente vai sair daqui e vai para uma reunião, depois vou na base. Gosto de trabalhar com garotos porque acho que futebol não tem idade. Se um menino de 16, 18 anos, joga bola, ele vai jogar comigo. Não vou esperar ele fazer 20 anos para ser jogador de futebol. Essa região tem muito jogador bom. Quando estava em grandes equipes da Série A, o que chega para a gente de garotos do Norte e Nordeste, com 14 e 15 anos, porque a gente não pode trabalhar eles antes disso, formá-los?

Trabalho integrado com as categorias de base

Quero gerenciar a base diretamente junto com o presidente, faz parte do nosso projeto. Vai ser com uma linha de conduta: que esses jovens comecem com 13, 14, 15, 16 anos e entendam a filosofia do Remo, qual é o modelo de jogo do Remo. A gente vai formar esses jogadores nesse sentido, já sabendo que quando entrarem em campo, tem que atacar. Essa é a nossa preocupação.

Hoje (quinta-feira) conversei com alguns jovens dizendo que em todo trabalho a gente vai ter ou o “sparing” ou eles ali, para complementar, mas ao mesmo tempo você já está preparando eles para futuras convocações. Quero deixar esse legado aqui, de formar esses jogadores e que o Remo também saia lucrando. A gente vai formar para vender e o Remo vai se beneficiar com tudo isso.

Preparação contra o Atlético-AC

O esquema ainda não (tem definido), mas ainda vou aproveitar muita coisa que o Márcio (Fernandes) deixou, porque a gente não pode abrir mão. A gente infelizmente classifica um trabalho pela eliminação ou classificação, achando ele ruim ou bom. Na minha visão, o legado que ele está deixando é de muitas coisas boas. Tenho um modelo de jogo, já comecei a implementá-lo, amanhã (sexta-feira) já começo a trabalhar parte tática do que quero e a formação do time vou ver já em cima do Atlético (AC), que é um time que já mudou bastante.

Contratações de jogadores

Estou conversando com o (Luciano) Mancha, nosso diretor executivo, sobre jovens há uns 3 dias. Alguns estão sendo contactados, mas isso deixo para o Mancha falar.

Reação do Cuca com o acerto com o Remo

Ele ficou muito feliz quando falei. Para se ter uma ideia, a gente tem um vínculo tão grande que, desde que ele foi para o São Paulo (SP), falei com ele umas 5 ou 6 vezes, para tentar cortar um pouco o laço. Quando liguei, ele estava jantando e falou: “Pô! Tu não pode deixar de falar comigo”. Falei: “Estou ligando para te incomodar. Está pintando uma oportunidade no Remo e o presidente (Fábio Bentes) quer que tu dê uma palavrinha com ele”.

Foi de primeira, para a felicidade dele. No outro dia já entrou em contato com o presidente, depois me ligou. Falou que na primeira oportunidade que tiver quer viajar para cá para planejar. Então ele também já está se preparando para a segunda etapa da vida dele, que é ser um “manager”, que é ter alguns treinadores que ele esteja à frente. Fico muito feliz com essa ideia dele de me lançar como treinador. A gente preparou um menino por 2 anos para ficar no meu lugar e, quando ele conseguiu fazer as coisas, deixamos ele e agora estou seguindo.

Processo de transição para o novo cargo

Essa tendência dos auxiliares começarem a virar treinador é a modernidade do futebol. A tendência é os treinadores que estavam a mais tempo em atividade se aposentarem e aqueles que estão no dia a dia começarem a ter essa responsabilidade de assumir. Vejo com naturalidade essas chances para os jovens. Não sou tão jovem como alguns que estão surgindo agora, já estou com 53 anos, com bastante bagagem. Minha vantagem de estar no Remo é que já acompanhei alguns jogos, o treinador que estava aqui é um amigo, irmão, e com a indicação de um cara que é ídolo aqui, o Cuca. Isso tudo junta para que a gente tenha um sucesso na caminhada.

Globo Esporte.com, 29/08/2019

2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente entrevista e também já estou motivada! No Remo não há tempo para lamentações, vamos em frente. Gostei muito do que ele falou do Rexpa e como vai mostrar aos jogadores os erros de posicionamento, porque posicionamento é importantíssimo. Ele me parece super empolgado com a oportunidade e ainda bem que viu esse Rexpa e logo entender que ele não é um jogo normal. Acho que o Bentes agiu rápido e certo. O Cuca não esquece o Remo, outro dia falou do clube, eu particularmente não gosto muito do estilo dele, muitos lançamentos, mas talvez no São Paulo ele esteja aplicando mais toque de bola. Enfim, todo sucesso ao Eudes.

  2. Só quero um remo mais aberto a torcida sem fechar treino o jogador tem que se acostumar com a torcida senão quando for na hora treme porque não aceitou no treino a torcida ok boa sorte

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