Rodrigo
Rodrigo

Alguns cenários parecem ter sido desenhados especialmente para o futebol paraense, sobretudo ao Clube do Remo. Quando o assunto gira em torno dos jogadores da base, o Leão parece fazer um esforço para andar na contramão. Ao invés de priorizar os jogadores novos, criados nas divisões de base do clube, parece que o destino é perder verdadeiras joias surgidas em sua casa.

Na prática, exemplos não faltam para ilustrar a falta de tato com tantas promessas escapando pela porta da frente. Nos últimos dois anos, para não forçar a memória do leitor, o Remo viu sua base ascender ao ponto de tomar para si a responsabilidade de alimentar o anseio da torcida por jogos. O resultado disso foi um provável recorde mundial de público em uma competição de base.

No dia 03/10 do ano passado, há pouco mais de um ano, o Remo enfrentou o Flamengo (RJ) pelas oitavas de final da Copa do Brasil Sub-20 e levou mais de 24 mil torcedores ao Mangueirão. Enquanto fazia bonito em campo, o elenco profissional amargava o ostracismo e a falta de calendário. Tempos difíceis, onde a relação se inverteu, mais ou menos como se o filho trabalhasse para sustentar o pai desleixado.

O bom momento perdurou até o fim da temporada. O Leãozinho Sub-20 faturou a Copa Norte, chegou às quartas-de-final da Copa do Brasil, ganhou destaque na concorrida Copa São Paulo de Futebol Junior, tudo com um elenco formado por garotos brilhantes. Com tantas prerrogativas, parecia que o elenco profissional teria um farto leque de reforços, mas o resultado não foi bem assim.

A prova disso é que nenhum dos atletas que brilharam no ano passado (e até nesta temporada, com as conquistas do Parazão Sub-20 e do bicampeonato da Copa Norte) apareceram no time comandado pelo técnico Roberto Fernandes.

[colored_box color=”yellow”]Rodrigo se destacou, mas não ficou

Nem mesmo a campanha brilhante em âmbito nacional conseguiu segurar as investidas de gigantes brasileiros sobre os garotos da base azulina. Por um lado, o tempo sorriu e o sol apareceu, mas por outro, chuvas e trovoadas arrancaram as crias que tanto poderiam fazer pelo futuro do Remo. Mais uma vez, as lições do passado não foram devidamente assimiladas.

O maior destaque daquele grupo do sub-20 de 2013, o meia Rodrigo, ficou marcado como maior derrota fora dos gramados. Imediatamente após brilhar nos campeonatos, o garoto foi sondado por Vitória (BA), considerado um dos maiores clubes de base do Brasil, mas acabou vestindo a camisa do Corinthians (SP). Rodrigo saiu e cortou relações com o clube, a quem chegaram a trocar algumas acusações.

A ida do meia provocou reações. Alguns garotos foram promovidos ao profissional, caso do atacante Rony, do volante Warian Santos, dos zagueiro Yan e Tsunami, enquanto outros, ainda sonham com uma oportunidade.

“Nesses torneios, nós damos o melhor, porque o professor nos olha e de repente pode pintar alguma chance no profissional”, diz, esperançoso, o atacante Samuel, autor de um dos gols da vitória histórica contra o Flamengo (RJ).

O problema é que não demorou muito e os mesmos erros reapareceram. Warian Santos, por exemplo, deve assinar contrato com o Grêmio (RS), enquanto Tsunami já mostrou vontade de deixar o clube após a temporada. Assim, um velho ciclo corre o risco de se repetir exatamente como não gostaríamos.[/colored_box]

Diretoria fez 12 contratações para a Série D

Para quem conseguiu um lugar ao sol, uma chance de brilhar no elenco principal, o mérito só foi alcançado com muita paciência e perseverança. O atacante Rony, por exemplo, foi lançado pelo então técnico interino Agnaldo de Jesus. Rapidamente subiu no conceito dos treinadores seguintes, mas ainda assim precisou amargar tempos na reserva de jogadores totalmente reprovados.

Por muito tempo ele foi reserva de Leandrão, o atacante contratado com status de ídolo, mas que na prática não fez absolutamente nada. Sorte que o talento de Rony foi tão evidente, que o próprio Leandrão o admirava.

Porém, o caso dele foi isolado. Enquanto Rony ganhava espaço, o técnico Roberto Fernandes iniciou sua série de importações para a Série D. A diretoria contratou Negretti, Michel Schmöller, Danilo Rios, Marcinho, Alvinho, Régis e Danilo Lins, todos indicados por ele, além de Jadílson, Rafael Paty, Robinho, Jardel Buiú e Reis, através da diretoria.

Ao todo, 12 novidades para uma competição, enquanto pratas da casa desciam para a base ou iam tentar a vida em outros lugares, ainda que a diretoria tenha feito esforços na medida do possível.

“Nós fizemos tudo possível para valorizar nossos atletas da base. Incorporamos o Tsunami e o Warian Santos ao profissional, mas algumas situações são determinadas por eles e nós não podemos impedir”, alega o diretor de futebol do Remo, Thiago Passos.

No fim das contas, a delonga envolvendo dirigentes, profissional e garotos parece ser só mais um dos desafios feitos sob encomenda para o Leão em mais uma temporada.

Diário do Pará, 05/10/2014