Mário Couto
Mário Couto

Antônio Cândido Barra Brito, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Estado do Pará (TJD-PA) esteve no foco da imprensa e dos torcedores por conta do imbróglio envolvendo Santa Cruz de Cuiarana e Federação, que paralisou o campeonato. Dirigentes e o advogado do clube de Salinas chegaram a levantar questionamentos sobre a isenção do órgão em julgar ações contra a FPF, fato que ofendeu profundamente o diretor jurídico da Federação, Antonio Cristino, mas que segundo o próprio presidente do TJD – é um assunto que se encerra na esfera desportiva e não deve correr para a Justiça Comum.

No entanto, Brito alerta que a questão, mesmo com a desistência da ação por parte do Santa Cruz, ainda pode gerar punições contra o clube. “Há dois artigos no Código Brasileiro da Justiça Desportiva pelos quais o clube pode ser denunciado, que envolvem punições em multa e suspensão”, alerta o presidente. Barra Brito afirma que, no momento, os recursos e ações saíram da mão do TJD para passar à Procuradoria. “A Procuradoria funciona como uma espécie de Ministério Público da Justiça Desportiva. Eles vão avaliar os casos e, se constatada a irregularidade. Fazer a denúncia, retornando ao TJD, mas tudo depende da apuração deles”, diz Brito.

O artigo destacado versa sobre gerar ações baseadas em sentimento pessoal ou erro grosseiro. O fato de o requerente ter aberto mão do processo às vésperas do julgamento pode facilitar essa interpretação, mas Antônio Barra Brito prefere não se antecipar em comentários ou julgamentos. “No momento, essa avaliação diz respeito à procuradoria. Não gostaria de emitir uma opinião e ver minha isenção questionada no caso de voltar a avaliar ações relacionadas ao Santa Cruz”, afirma.

Além das punições de seus dirigentes por conta da forma como correu o processo, o Santa Cruz ainda vislumbra o julgamento de súmula da partida que perdeu por W.O. Entre as punições previstas estão multa de R$ 100 a R$ 100 mil e exclusão de competições oficiais por um período de dois anos. Com as diversas confissões de intenção de realizar o W.O, as chances de a punição vir de forma integral são grandes.

Campeonato Paraense nunca precisou dessa figura

Será que o amistoso entre Santa Cruz de Cuiarana e Santa Cruz de Capanema na “Taça Mário Couto”, torneio amador disputado logo após a paralisação do Parazão, não foi uma indicação do que vem por aí? Caso seja punido e afastado por dois anos de competições oficiais, o Santa Cruz de Cuiarana fatalmente deve desaparecer do futebol paraense, mas o que impede o seu patrono, o senador Mário Couto, de retomar seu “projeto esportivo” em outra praça? Quem sabe em outro Santa Cruz.

A passagem do senador e seu “clube empresa” pelo município de Capanema foi seguido de uma série de notas elogiosas por parte da assessoria de imprensa do município, todas citando o nome do patrono do clube.

No perfil oficial da prefeitura de Capanema no Facebook, além de destacar o jogo de volta do Torneio Mario Couto, havia um tópico destacando uma “noite de autógrafos” na cidade de um livro-biografia do senador. Nada confirma até o momento a migração de Cuiarana pra Capanema, mas que parece haver interesse nisso, é inegável.

Quanto ao clube do distrito de Salinópolis, a realidade tende a ser bem dura sem a presença do seu patrono. O clube se tornaria uma despesa demasiadamente pesada para o modesto vilarejo de Cuiarana, onde residem cerca de 2 a 3 mil dos 30 mil habitantes de Salinas.

Sem atividades por dois anos, a captação de patrocínios se tornaria inviável. Sem quadro largo de associados, ou estrutura para oferecer, as fontes de recurso devem desaparecer tão logo o patrono se afaste. Com uma dispendiosa estrutura construída no entorno do clube, a simples manutenção dela se tornaria um desafio e tanto.

Muito provavelmente a equipe se retirará do futebol profissional e voltará a ser o “time dos coroas”, como antes era conhecido. Uma equipe de peladas que disputa o campeonato distrital e jogos de “8 contra 8”. E o legado da cara empreitada de um senador ambicioso num modesto vilarejo do interior será a lembrança do escândalo e interrupção do Parazão 2013.

Diário do Pará, 15/04/2013