Flávio Araújo
Flávio Araújo

Dizem que os instintos básicos do ser humano são incontroláveis e, se não educados, induzem sempre ao erro. Esse é o princípio básico que rege a crença dos “sete pecados capitais”. A igreja Católica utilizava-se deles para tentar cultivar seus ensinamentos. Passado séculos, os pecados capitais continuam em evidência, mas não como uma forma de controle, e sim com popularidade na cultura pop. São livros, novelas, filmes e seriados que se utilizam do conceito.

O futebol, o esporte mais popular do mundo, claro, também não fica de fora, principalmente quando é para apontar as mazelas de uma campanha fracassada de algum clube. Listamos os sete pecados que levaram o Clube do Remo, exatamente há uma semana, a perder o título do segundo turno do Parazão e, consequentemente, o calendário para o segundo semestre de forma oficial. Ao analisar o semestre azulino, é fácil lembrar-se de outro dito popular: as vitórias sempre escondem as mazelas.

1. Contratações

Para a temporada 2013, o Clube do Remo contratou nada menos que 32 jogadores de fora. Somando aos jogadores das categorias de base, inchou o plantel. Como se poderia imaginar, nem todos tiveram oportunidade no esporte em que apenas 11 são escalados como titulares. Tragodara, Eduardo, Josy, Edilsinho, Thiguinho são alguns dos nomes que o torcedor nem mesmo lembra, já que nem chegaram a vestir a camisa azulina ou apenas entraram em um tempo de alguma partida sem tanta importância. No final, para se ter uma ideia das contratações pouco criteriosas, as duas laterais acabaram sendo ocupados por atletas das categorias de base, já que nenhum dos contratados se firmou, com exceção do ala esquerdo Berg, mas que acabou se machucando na reta final do Parazão.

2. Camisa 10

Em meio o volumoso número de contratações, o meio de campo foi setor que mais recebeu reforços. Não só recursos humanos, como financeiros. Os três jogadores mais caros do plantel pertenciam ao meio de campo: Ramon, Clebson e Thiago Galhardo. Todo o investimento girava em torno de conseguir um “camisa 10” que pudesse dar ordem ao bagunçado meio de campo da equipe. Nada. Nenhuns dos sete jogadores da posição conseguiram o posto.

3. Esquema indefinido

Em 22 jogos oficiais, o técnico Flávio Araújo não conseguiu manter um esquema tático pré-definido. A carência do camisa 10 acarretou no grande problema da equipe: o meio de campo. Mesmo tendo jogadores com características ofensivas, Flávio parecia temer colocar seu time para jogar dessa forma. Praticamente não abriu mão de jogar com três zagueiros. De resto, foram várias mudanças. Começou o campeonato no 3-5-2, alegando que aguardava o entrosamento dos meias. Conseguiu levar o barco até a final do primeiro turno, mas acabou perdendo e tendo o sistema questionado. Mudou para o 4-4-2 sem nenhum efeito. Na reta final, resolveu encher de jogador o seu deficiente setor, se utilizando do 3-6-1 e do 4-5-1, mas com esquemas defensivos, só conseguiu passar pelo Paysandu nas semifinais por placar apertado.

4. Mimos em excesso

Mesmo a Toca do Leão tendo passado por reformas no ano passado, grande parte das concentrações da equipe foram em um hotel da cidade. Além disso, diretores ressuscitaram a política do pagamento de “bicho” de R$ 10 mil por vitória no primeiro turno. No segundo, premiaram quando consideravam que o time tinha garra. Mesmo com os salários em dia, o apartamento de alguns atletas era de luxo e o concerto de carros particulares era bancado pela própria diretoria. Por seu currículo invejável, o técnico Flávio Araújo recebeu tratamento vip em Belém e foi pouco questionado no Baenão.

5. Brigas internas

Alguns diretores que trabalhavam ao lado do presidente Sérgio Cabeça não se “bicavam”. O centro das intrigas era Francisco Rosas, diretor de futebol. Mesmo sendo homem de confiança de Cabeça, ele não agradava alguns diretores. O clima esquentou quando Rosas quis demitir o técnico Flávio Araújo após a eliminação na Copa do Brasil, e contratar Charles Guerreiro, técnico do Paragominas. A atitude não foi vista com bons olhos pelo restante dos diretores, principalmente, pelo vice-presidente Zeca Pirão.

6. Salários

Ao contrário do ano passado, a disparidade de salários no Baenão esse ano foi grande. Enquanto existiam jogadores ganhando próximo dos R$ 30 mil, outros não chegavam nem a R$ 5 mil.

7. Funcionários

Mesmo sendo o detentor das maiores rendas do Parazão e tendo conquistado uma renda de quase R$ 1 milhão na partida contra o Flamengo (RJ), na Copa do Brasil, os funcionários azulinos da sede social e Baenão, em sua maioria, continuaram a padecer. Zeca Pirão, vice-presidente, chegou a prometer pagar os cinco meses de salários atrasados com a renda da Copa do Brasil, mas o presidente Sérgio Cabeça preferiu destinar a verba para os compromissos na Justiça e salário do plantel. Não é de hoje que uma lenda circula no Baenão: o atraso do salário dos funcionários não deixa a bola entrar.

Diário do Pará, 12/05/2013