CT do Carajás
CT do Carajás

No primeiro artigo sobre o tema, vimos que não basta adquirir um imóvel com campos de futebol e chamar de CT, pois o aparelho requer uma estrutura mínima para assim ser considerado. Então, dentro dessa “estrutura mínima”, o que deve ser prioridade, não somente com enfoque nas atividades do time principal como, em especial, em tornar o CT um ativo para o Clube?

Em relação às atividades do time principal, que no caso do Clube do Remo, a nível nacional, será a Série B do Campeonato Brasileiro, é necessário observar as exigências contidas no Regulamento de Licença de Clubes, criado pela RDP CBF nº 01/2017, que estabeleceu a estrutura, os procedimentos e os critérios técnicos exigidos para as disputas de competições nacionais e internacionais a partir de 2018.

Com implantação gradativa, as exigências do Regulamento de Licença de Clubes, para a Série B, já vêm sendo implementadas desde 2019, sendo que, em relação a infraestrutura física exigida aos participantes, está a necessidade de contar com um Centro de Treinamento (próprio ou alugado), pois passou a ser proibida a utilização do campo de mando das partidas como local de treinamento. Assim, sem poder utilizar o Mangueirão que passar por reformas, e sendo o estádio Evandro Almeida, o Baenão, como o campo de mando, a aquisição do futuro CT também se justifica por isso.

Quanto ao outro aspecto, um investimento do porte de um CT não deve se limitar a ser apenas o local da preparação técnica do time principal, pois como visto na primeira parte deste texto, é conveniente receber as outras categorias mantidas pelo clube investidor e, neste aspecto, deve ser dotado da estrutura necessária para atender as exigências do chamado “mecanismo de solidariedade nacional”, previsto no art. 29 e seguintes da Lei nº 9.615/98, conhecida como Lei Pelé (com redação dada pela Lei nº 12.395/11), e regulamentada atualmente pela RDP CBF nº 01/2019 e, assim, obter o cobiçado Certificado de Clube Formador (CCF).

E o que é CCF? Ramom Bisson Ferreira, executivo de futebol do XV de Piracicaba (SP) e vencedor do II Concurso de Artigos Científicos da Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados em 2018, conceituou como sendo “um selo de reconhecimento do trabalho de um clube de futebol que atenda aos 21 requisitos gerais obrigatórios, que se subdividem em mais 30 requisitos”.

Estes requisitos, ainda segundo Ferreira, podem ser divididos em 3 grupos: (i) Esportivos; (ii) Estruturais e (iii) Humanos.

Para fins desse artigos, vamos nos ater aos requisitos estruturais, ou seja, o que o CT deve possuir para atender as exigências para obtenção do CCF. Neste caso, optando o clube investidor em ter atletas residentes, deve: “Manter alojamento e instalações desportivas em boas condições em matéria de alimentação, higiene, segurança e salubridade, a serem atestadas por laudo técnico emitido por profissional da área de saúde e segurança do trabalho, garantido aos atletas em formação e que residam no alojamento do clube, o mínimo de três (3) refeições diárias (desjejum, almoço e jantar), planejadas por nutricionista e servidas no clube ou fora dele, em local adequado e em boas condições de higiene e salubridade”.

A manutenção de atletas residentes não é obrigatório, contudo, em clubes como o Remo, não raro são recebidos atletas do interior e até de outros Estados, o que, em resumo dos dispositivos contidos na RDP CBF nº 01/2019 (entre os quais o acima transcrito), que modificou e substituiu as RDP’s nº 01/2012 e 04/2015, o CT precisa contar com alojamentos, instalações desportivas (campos), banheiros, área de lazer, cozinha e refeitório, tudo dotado da necessária e indispensável mobília e equipamentos. Destaque para a exigência de apresentação de laudos, inovação certamente trazida em decorrência da tragédia no “Ninho do Urubu”, pertencente ao Flamengo (RJ), no início de 2019.

O CCF possui 2 categorias: Categoria “A”, com validade de dois (2) anos, para os clubes que preencham requisitos comprovadamente acima das exigências mínimas; e Categoria “B”, com validade de um (1) ano, para os clubes que comprovem apenas o atendimento das exigências mínimas.

Para o advogado Paulo Henrique S. Pinheiro, sócio do conceituado escritório Pinheiro Advogados Associados S/S, em artigo publicado no seu site, os benefícios do clube formador “são vários e podemos especificar alguns, tais como: a) Ter o direito de assinar o primeiro contrato profissional com o atleta e o direito de preferência na renovação; b) Garantia legal para elidir o aliciamento de terceiros e abandono “intencional” do atleta; c) Participar do Campeonato Brasileiro da Série “A” de futebol, como exigência feita no licenciamento de clubes; d) Recebimento de todos os investimentos na formação se o clube formador ficar impossibilitado de assinar o primeiro contrato especial de trabalho desportivo por oposição do atleta, ou quando ele se vincular, sob qualquer forma, a outro clube, sem autorização expressa do clube formador”.

Além da garantia que o clube detentor do CCF possui para proteger os talentos revelados em suas categorias de base, outra vantagem é a possibilidade de remuneração em futuras transferências dos atletas formados (venda ou empréstimos) dentro do território nacional (para as transações internacionais, o mecanismo de solidariedade é o da FIFA), uma vez que o art. 29-A da Lei Pelé, garante que “até 5% (cinco por cento) do valor pago pela nova entidade de prática desportiva serão obrigatoriamente distribuídos entre as entidades de práticas desportivas que contribuíram para a formação do atleta”.

Em lista atualizada em abril de 2021 pela CBF, nenhum clube do Norte possui o Certificado de Clube Formador o que, em parte, justifica a quase total ausência dessa rubrica nos ativos dos clubes da região. O Flamengo (RJ) já passa de R$ 100 milhões em arrecadação com negociação de jogadores em 2021.

Assim, podemos concluir que o investimento em um CT capaz de comportar a preparação técnica do time principal e de propiciar a obtenção do CCF, certamente colocará o Clube do Remo em outro patamar, o que justifica plenamente qualquer sacrifício nesse sentido, além disso, já que os sonhos já se mostram possíveis, a condição de Clube Formador é uma exigência para que qualquer clube dispute a Série A do Campeonato Brasileiro, certamente o próximo passo do Clube do Remo.

Pra cima Leão!

Texto enviado por: André Cavalcante (ex-presidente do Clube do Remo, 2016) » Twitter

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16 COMENTÁRIOS

  1. Falando de campo, é muito sofrimento pra ganhar do Paragominas, time horrível no primeiro tempo , melhorou um pouco no começo do segundo tempo.
    Resumindo, ta muito complicado com certas peças do time.
    Eu sou defensor dos meninos da base, porém, os mesmos parecem que não treinam, só moleza. Sem condições pra uma série B.
    O time entra dormindo em tds os jogos !!!

  2. Quanto sofrimento pra ganhar Paragominas. Temos que melhorar muito pra conquistar os objetivos.
    Sou a favor dos meninos da base azulina, porém, esses que entraram hj nenhum tem condições de disputar uma série B.
    O Bonamigo parece que não treina o necessário pra colocar o time nos eixos. Todos os jogos a mesma coisa, o time entra sonolento, volta pro segundo um pouco melhor, depois cai de produção se novo.

  3. Estamos de acordo quanto a necessidade de termos um CT minimamente estruturado, mas quanto teremos que investir ?? Temos o valor necessário para tal ??? Ou temos algum projeto de captação desse recurso ?

    • Que boa e esclarecedora matéria e sim acredito que essa atual diretoria vai realizar esse sonho de todos os torcedores remistas e nós colocar na vanguarda do norte do país e no mesmo nível estrutural de equipes do sul, sudeste e nordeste.

  4. Será necessário ter muita sabedoria para comprar esse CT. Tem que avaliar tudo com calma e tomar a decisão de cabeça fria. Em uma cidade pobre como a nossa, já sabem que o Remo está com dinheiro na mão e vão querer jogar o preço lá em cima. Talvez seja até melhor mandar corretores sondarem as áreas.

    • Isso está sendo feito há semanas. A imagem do CT do Carajás apenas ilustra a matéria. É um entre vários terrenos candidatos.

  5. Algo me diz que esta década será a melhor da história do Remo. Que os erros do passado serviram apenas de aprendizado e o nosso amado clube vai, gradativamente, cravar o seu lugar entre os grandes do Brasil. Que Deus ilumine o próximo presidente tanto quanto ilumina o Fábio Bentes.

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