Josué Teixeira
Josué Teixeira

Quando se fala em “atacar” no futebol brasileiro, automaticamente a maioria das pessoas enxerga a figura de um meia armador como peça central, para ser o elo criativo de uma equipe. No Remo não é diferente, com a torcida clamando por tal figura incluída no time titular.

Danilinho, Flamel, Kaio Wilker e, agora, com o (possível) retorno de Eduardo Ramos, o furor em volta da característica criativa continua grande.

Estes pedidos fazem parte da cultura futebolística imperante no Brasil, onde a mania de personificar as soluções individualmente é aceita como verdade absoluta. Sempre os problemas coletivos têm de ser resolvidos por um ser dotado de criatividade acima do normal para clarear as jogadas e conseguir os objetivos, de acordo com quem compartilha de tal cultura.

Ao pedir um jogador da posição entre os titulares, há a sensação de que tudo fluirá naturalmente, como se futebol fosse apenas uma reposição e organização de peças que se encaixam rapidamente. É praticamente querer individualizar a conquista de pontos e vitórias em um jogador, esquecendo o funcionamento coletivo que atua (ou tem que atuar) para dar sentido às ações da equipe.

Não estamos dizendo que um meia armador não seja importante para acionar os atacantes em melhores condições. Claro que é. Porém, imerso em um mar de incertezas coletivas, ele não vai conseguir render tudo que se espera.

O futebol é um conjunto de mecanismos e automatismos que precisam ser bem assimilados e executados dentro de campo, com o meia sendo mais uma peça da engrenagem, e não o centro de tudo.

Todos queremos o sucesso do Remo na Série C, mas não podemos ter essa visão distorcida da realidade e não devemos fechar os olhos para outros problemas acreditando que um só jogador dará conta de resolver tudo por pura e simples qualidade técnica. Todas as dimensões necessitam de integração funcional para que tal qualidade se sobressaia. É esse ponto que o torcedor deve focar e pedir durante as partidas.

“Com um meia, a chance de uma jogada individual sair é maior”, alguns podem argumentar. Logicamente, isso pode acontecer, mas não é uma certeza, provocando no time a eterna sensação de espera, a esperança de uma inspiração surgir em todos os jogos. Isso é pouco para quem almeja grandes coisas em um campeonato longo. Não há garantias no futebol pensando individualmente. Nem mesmo Edgar tem conseguido frequentemente ser o mestre que soluciona qualquer jogada com êxito.

A casualidade no futebol tem seu papel, por certas vezes maior do que deveria. Entretanto, não devemos contar com ela a nosso favor sempre. É necessário buscar mais certezas, por mais que não garantam 100% o resultado positivo ao final dos 90 minutos. A aproximação ao resultado se dá através da melhora coletiva, contando ou não com armador, tendo o aspecto coletivo e intersetorial como balizadores disso.

Que se queira um jogador que possa criar em ambientes incertos é um direito do torcedor, mas ele não pode acreditar que apenas isso resolva tudo, muito menos que aproxime o Remo da vitória. É apostar pelo passado e uma cultura defasada e, no caso do Remo, quanto menos apostas e mais certezas, será melhor.

Os créditos têm de ser depositados na aparição de entorno coletivo potencializador, por mais distante que possa estar. Somente assim os jogadores poderão brilhar por mais tempo e não teremos o acaso como melhor jogador do Remo.

Texto enviado por: Caíque Silva » Twitter

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