Amauri
Amauri

Há anos, torcida e imprensa pedem que o futebol paraense comece a valorizar os frutos da base, já que, além de ser um investimento para o futuro, com a formação dos próprios craques, a medida pode render boas quantias em negociações.

O Clube do Remo parece que se atentou a isso depois de perder alguns jovens atletas precocemente e já amarrou o garoto Amauri, de 16 anos, craque do time Sub-17 azulino. O jovem jogador, recentemente, recebeu várias sondagens de times de fora do Estado e o Leão resolveu segurá-lo. Desta forma, o menino assinou um contrato de três anos e já começa a realizar o sonho de se tornar um jogador profissional.

“Foi uma grande oportunidade que me apareceu. Estou aproveitando e sigo trabalhando forte para, lá na frente, ser melhor. Vou aproveitar os treinamentos e, assim, seguir evoluindo”, afirmou o garoto.

“Minha família ficou muito feliz com isso. Há tempos que eles queriam que meu sonho se realizasse e, com todo o apoio deles, graças a Deus, consegui. Estou conseguindo, pouco a pouco”, disse.

Apesar da pouca idade, Amauri corresponde a todo esse investimento. O garoto, que tem como inspiração o atacante Gabriel Jesus, do Palmeiras (SP) e da Seleção Brasileira, vem mostrando seu futebol no Parazão Sub-17. Vindo do município de Bonito, próximo a Capanema, o atacante já balançou as redes 12 vezes em 7 jogos no Estadual da categoria.

[colored_box color=”yellow”]Sinal dos novos tempos?

O contrato de Amauri com o Remo pode ter representado uma mudança no tratamento das categorias de base do futebol paraense, pelo menos do ponto de vista da manutenção dos atletas nos clubes. Com a permanência de um garoto de 16 anos no cube, é possível que esta ação se repita mais vezes pelo Baenão. Segundo Amauri, a cobrança será maior, mas ele entende que isso não afetará em nada na relação com os demais atletas.

“Claro que vão cobrar muito mais por causa do contrato, mas todos estamos focados no trabalho. Espero que tenha servido também para abrir portas para os outros garotos. Tem gente boa no Sub-17 e no Sub-20 e eles podem ganhar essa oportunidade, para que realizem os sonhos deles também”, afirmou o jovem atleta, que revela uma vontade de jogar pelo Remo. “Quero jogar profissionalmente aqui, fazer uma boa carreira e depois seguir meus passos”, ressaltou.[/colored_box]

“Base não é gasto, é investimento”, afirma diretor

Ao longo dos últimos dias, os garotos da base azulina estão treinando no Baenão. Porém, nem sempre tem sido assim. “O treino não é aqui (Baenão). Estamos aqui porque o time principal está sem atividades. Diante de muita luta, conseguimos treinar aqui”, afirmou André Baía, diretor da base do Remo, que acredita que os gestores do futebol dos clubes do Norte têm um pensamento muito atrasado em relação às categorias de base.

“No dia que colocarem na cabeça que a base não é despesa, que ela é investimento, tudo vai mudar. Com 144 municípios, 6 milhões de pessoas. Se fizessem uma busca de atletas, só os jogadores daqui supririam as necessidades do nosso futebol, sem precisar ir atrás de clubes de fora”, argumentou.

Para Pedro Henrique, treinador do time Sub-17 remista, é preciso também haver mais investimento nas categorias de base, como foi feito com Amauri, para que esses valores descobertos não se percam.

“Enquanto encarem base como despesa e não como investimento, vão aparecer mais 10 Amauris, Ameixas, Ronys, Betinhos, que vão fazer sucesso em outros clubes. Vamos amassar o pão para o outro comer. Isso é um erro! Vão aparecer outros, mas vão ter os mesmos fins. Nada contra ninguém, mas esses garotos são os patrimônios do clube”, afirmou.

Há poucas semanas da eleição, Baía ressalta que ainda não conversou com nenhum candidato sobre a base, mas que vai falar com o vencedor da eleição sobre a atuação situação.

“Quando entrei, em 2013, não tinha quase material. Hoje, temos mais de 200 bolas e material para treino. Muito melhorou, mas não é o ideal. Temos parte da renda (5%) e do patrocínio (10%) destinados à base. Vou me reunir com o novo presidente, vou mostrar o crescimento, a situação, e rezar para que ele absorva essa necessidade”, encerrou.

[colored_box color=”yellow”]Formação de atletas e cidadãos

O Clube do Remo está com um projeto chamado “Fábrica de Leões”, em que o próprio clube vai “fabricar” seus craques. Porém, com todas as dificuldades do futebol, nem sempre o atleta vai conseguir se profissionalizar, por isso é importante formar também cidadãos.

Apesar de não ter essa estrutura para uma total formação, a comissão técnica da base azulina se vira como pode.

“Temos alguns garotos que vieram de Macapá (AP) e nós matriculamos eles na escola pública. Nós conversamos com eles, mostramos que nem todos serão atletas, mas todos serão homens. Muitas mães já vieram agradecer dizendo que o filho mudou muito depois que entrou aqui. Porque o importante é isso também, é formar o cidadão”, afirmou Baía.

Sobre a “Fábrica de Leões”, o técnico Pedro Henrique ressalta que estão criando os jogadores, mas espera que eles fiquem no clube.

“Estamos fazendo meio que ‘no pau e no espeto’. A gente está buscando fazer o nosso papel da melhor forma possível. A gente só quer que seja bom para o clube. Todo mundo quer ser vencedor. Só que não adianta ganhar um título e amanhã o Amauri fazer um gol jogando contra o Remo”, encerrou.[/colored_box]

Diário do Pará, 23/10/2016